Quando a novela "Paraíso tropical" começou, Camila Pitanga surpreendeu. Ela, que antes era uma atriz competente mas um tanto contida, mostrou-se capaz de uma entrega que a muitos parecia difícil de acontecer. Passados os primeiros meses da estréia, ninguém mais se lembra de comparar Bebel com as personagens anteriores de Camila na TV. O que todo mundo quer ver é o novo repertório gestual da personagem, conseqüência da sua escalada social e do esforço de "domesticação" dos seus modos.
Bebel tinha dado à atriz a chance de ir fundo num tipo de enorme vulgaridade, sem ser vulgar em momento algum. Agora que ela quer ser uma grande dama, o telespectador tem tido a oportunidade de conferir mais uma vez a dimensão do talento de Camila. Olha o desafio: Bebel é uma moça vulgar fingindo elegância, não uma outra pessoa novinha em folha. Camila tem que ser uma Bebel-domada. São duas em uma. A atriz já mostrou o pulo do gato que vai dar: ela vem transformando Bebel sem despersonalizá-la ou cair na caricatura. Detalhe: com humor.
Com esta nova fase, os autores da história, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, abrem para Camila mais uma possibilidade de esbanjar versatilidade. A prostituta seria um passo valioso na carreira de qualquer atriz. Ou, como muitas delas gostam de dizer, um verdadeiro "presente". Porém, nem todas conseguem aproveitar uma chance dessas: outras personagens são potenciais explosões, só que não decolam. Há atores com o mesmo domínio técnico de cena de Camila Pitanga (estamos falando de uma profissional muito estudiosa), mas sem o seu brilho. Quando alguém na novela comenta que Bebel é "a mais linda da festa" ou que "todo mundo só consegue olhar para ela", o público acredita. Ela já é um daqueles marcos inesquecíveis da teledramaturgia, como uma Viúva Porcina, de Regina Duarte em "Roque Santeiro". E isso sem ser a protagonista.
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