Bianca Pinheiro subiu ao palco do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte na edição do ano passado às lágrimas. Um projeto que a desenhista curitibana havia começado a rabiscar tempos antes finalmente fora anunciado. Era a Graphic MSP “Mônica – Força”, que repagina a personagem título da Turma da Mônica de maneira surpreendente. Naquele palco, Mauricio de Sousa a esperava. A emoção era incontrolável. “Foi com a obra do Mauricio que eu comecei a ler”, lembra ela.
Lançado neste mês de setembro, a graphic novel ousa pela temática. Mônica passa por problemas que não podem ser resolvidos com coelhadas. Nós nas orelhas de Sansão e caricaturas que ressaltavam sua alcunha de ‘dentuça’, ‘gorducha’ e ‘baixinha, homenagens dos amigos Cebolinha e Cascão, já não lhe despertavam a ira. Havia problemas mais importantes para lidar em casa e a força bruta deixou de ser solução [o spoiler acaba por aqui].
À Bianca, que completa 29 anos em 21 de setembro, coube criar um lado da personagem que poucos imaginariam. Com destreza e muita delicadeza, ela fez novos traços e história para a ‘dona’ da Turma de Mauricio de Sousa. “Quando o Sidão (Sidney Gusman, editor das Graphic MSP) me convidou, já me passou a temática de que a Mônica passaria por esse desafio”, conta ela.
“Bianca lançou três livros no mesmo momento. Poucos são os autores que conseguem fazer isso atualmente”
O processo de criação, porém, foi sendo desenvolvido aos poucos. “A gente levou quase dois anos para definir o roteiro. O Sidão estava muito enrolado com outros projetos e demorava a responder meus e-mails”, lembra, aos risos. Quando enfim o texto ficou pronto, o processo não se prolongou por muito mais. “Sou rápida. Demorei três meses para terminar os desenhos”, lembra.
Força também para a autora
“Bianca lançou três livros no mesmo momento. Poucos são os autores que conseguem fazer isso atualmente”, diz Gusman sobre o momento aceleradíssimo de Bianca.
É que “Força” acabou sendo lançado no mesmo mês em que outros dois trabalhos de Bianca ganharam as lojas: o terceiro volume de “Bear”, série criada na internet e que deu visibilidade à quadrinista e “Dora”, um thriller psicológico independente que esgotou e foi relançado (leia mais detalhes sobre os livros abaixo).
As duas obras são bem diferentes entre si e em relação à Graphic MSP. E isso é uma marca de Bianca. Se ela era apaixonada pela Turma da Mônica quando criança, as webcomics de Fabio Yabu, as tiras de Laerte, o terror da canadense Emily Carroll e o trabalho de quadrinistas contemporâneos, como Leandro Melite e Alexandre Lourenço, seguem como seus guias de inspiração.
Gênero, portanto, não é uma preocupação para a quadrinista, que bebe de todas as fontes e cria para linguagens distintas. Essa força multidisciplinar de Bianca impressiona porque começou a se fortalecer há relativamente pouco tempo.
“Que sensibilidade tem essa moça! A maneira que ela encontrou para desenvolver a trama, na qual a Mônica simplesmente não tem como resolver um problema e sua força física não vale para nada, é tocante.”
Nascida no Rio e criada em Curitiba, ela é formada em Artes Gráficas pela UTFPR e fez pós em História em Quadrinhos na Opet. A especialização foi uma forma de se ‘obrigar’ a criar uma HQ. “Estava trabalhando como ilustradora e era muito difícil sair da rotina. Gostava de criar HQs mas nunca parava para fazer isso”. “Bear”, seu grande comprometimento com a arte dos quadrinhos, foi criada em 2013.
“Fui um ponto fora da curva, porque Curitiba é uma potência em termos de quadrinhos, mas eu só conheci a Gibiteca, por exemplo, quando eu já fazia os meus”. A timidez tem muita responsabilidade nisso. “Estou conhecendo as pessoas nos últimos anos”, revela.
O próximo projeto de Bianca é uma graphic novel com um quê de ficção científica, que vem desenvolvendo junto com o marido, Gregório Bert, também para a Editora Mino. Os dois fizeram juntos o álbum “Meu Pai Era um Homem da Montanha”, lançado no ano passado.
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