O grupo punk Aborto Elétrico, de Brasília, deu à luz dois dos mais importantes grupos de rock brasileiros, Legião Urbana e Capital Inicial. Formado em 1978, tinha Renato Russo no baixo e voz, André Pretorius na guitarra e Fê Lemos na bateria. Depois Renato passou para a guitarra e Flávio Lemos, irmão de Fê, assumiu o baixo até a banda acabar em 1982. Fê e Flávio, hoje no Capital Inicial, pilotaram o mais novo disco da banda, um projeto especial chamado "Aborto Elétrico" com 18 canções da seminal banda do planalto central.
Nove destas canções são inéditas, as demais já foram gravadas pelo Capital ou pela Legião, como "Geração Coca Cola", "Música Urbana" e "Que país é esse?" Pela primeira vez se pode ouvir canções como "Helicópteros no céu", "O despertar dos mortos", "Heroína" e "Love song one". A diferença das já gravadas é a recuperação dos arranjos originais, embora não se tente recriar fielmente as interpretações. Funciona também como homenagem a Renato, falecido em outubro de 1996 por complicações decorrentes da Aids, e Pretorius, morto de overdose em Berlim em outubro de 1987.
- Passei metade da minha vida artística imitando o Renato Russo e a outra metade, nesses últimos anos, procurando o meu jeito de cantar. Quando consegui, surge o projeto do Aborto Elétrico. Não deixa de ser meio irônico, justamente quando me encontro artisticamente, digamos, vou prestar uma homenagem a ele. É importante dizer que isto aqui é o Capital Inicial interpretando o Aborto Elétrico, com a sorte de dois integrantes terem sido do Aborto. Então, o desafio é manter o espírito sem tentar macaquear o Renato, o que soaria ridículo. Fiz do meu jeito, o mais seco possível, mas o produtor Rafael Ramos conseguiu arrancar uma visceralidade que a gente não tinha. Uma banda com tanto tempo de estrada tende a ter seus próprios vícios, ser autocondescendente, achar que já sabe. A gente entrou no estúdio com essa atitude de que, sabendo as músicas, seria fácil gravá-las e foi a coisa mais difícil.
Dinho era estudante em Brasília quando tropeçou no Aborto Elétrico tocando de tarde na calçada do bar Cafofo.
- Tropecei literalmente. Eu voltava da aula, eles estavam no caminho. Foi o momento que mudou a minha vida. Caminhava para ter uma profissão ortodoxa qualquer e acabei virando músico sem nunca ter cogitado isso. Eu me interessava por rock desde os 13 anos, quando conheci Herbert Vianna e Bi Ribeiro [Paralamas do Sucesso], mas vinha de uma escola de hard rock, AC/DC, Led Zeppelin, em que se tinha que tocar para cacete, era um lance inatingível. O punk rock me deu as ferramentas para tocar sem ser virtuoso. O Renato virou guru, eu queria ser tudo que ele era, queria cantar e escrever daquele jeito e no Capital tentei imitá-lo até ver que não tinha o talento dele - conta Dinho.
Dinho acrescenta que quando iam gravar o disco tiveram medo de que as letras pudessem estar datadas, ainda mais porque estavam respeitando os arranjos originais. A atualidade dos temas e a roupagem moderna, atribuída por ele ao produtor, fez com que o repertório pareça atual.
- Renato é o maior artista do rock brasileiro que teve várias fases. A messiânica na época da Legião, a melancólica no final da vida e um começo intransigente, impaciente, raivoso e juvenil. Havia este buraco na história dele e se fazia necessária uma compilação para mostrar esta fase - diz Dinho.
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