Viver em uma sociedade alternativa é tido como sonho de muita gente. Não precisar estar preso a um emprego insatisfatório, não depender do dinheiro, produzir o próprio alimento e manter-se afastado das tentações do capitalismo. Na teoria pode ser incrível, mas, e na prática? É possível criar uma família nesse universo paralelo? O diretor Matt Ross fez esse questionamento em forma de filme. “Capitão Fantástico” pode não ter a resposta, mas possui força suficiente para suscitar o debate.
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Viggo Mortensen é Ben Cash. Pai de seis crianças e adolescentes que vivem em uma casa no meio de uma floresta do estado de Oregon. Eles usam roupas extravagantes, que parecem compradas em brechó, plantam e caçam a própria comida, fazem treinamentos de sobrevivência. Ninguém vai à escola, o aprendizado vem de livros lidos em família e tudo (o sexo, inclusive) é explicado cientificamente. Não há televisão, tampouco celulares. A diversão principal é cantar e dançar à noite.
Na família Cash não é celebrado o Natal, mas o aniversário de Noam Chomsky (filósofo americano de esquerda), o que ilustra os ideais do pai da família, de que o capitalismo é um mal a ser evitado. Como presente nessa data, as crianças ganham facas que deixariam Rambo envergonhado. Tudo parece seguir nos conformes até que outra realidade, a da maioria dos mortais, bate à porta. A mulher de Ben, que havia deixado a comunidade por problemas psiquiátricos, está morta. E deixou uma carta-testamento, em que pede para ser cremada e ter suas cinzas jogadas em um vaso sanitário.
Começa aí o conflito com um outro lado da vida. Há um pouco de “Pequena Miss Sunshine”, com a família tomando a estrada em um ônibus velho com ares ripongas. O choque de realidade rende momentos de humor, mas também é doloroso. O filho mais velho, Bo (George MacKay), por exemplo, não sabe como agir diante do flerte de uma garota. A filha mais nova consegue explicar o que significa a Constituição, mas é motivo de chacota por não saber o que é um Nike. O problema maior, contudo, é em relação ao avô (Frank Langella), que não aceita o modo de vida alternativo dos netos.
“Capitão Fantástico” se apoia nas contradições do estilo de vida imposto pelo pai, que critica a exploração por grandes corporações, mas não vê problemas em tramar com os filhos o roubo a um supermercado. Até onde vão esses princípios? Para o diretor Matt Ross, que admite ter inserido elementos autobiográficos na história, é um filme que lança um olhar crítico sobre a cultura americana, aborda diferentes modos de vida, mas não se propõe a vender uma ideia pronta.
“Tentei apenas propor uma série de questionamentos e espero que as pessoas tirem suas próprias conclusões sobre os significados que estão lá. Eu estava consciente de que queria criar algo que tivesse positividade”, afirmou o diretor ao site Collider.
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