Recém-tabulado pelo Filme B, portal especializado no mercado cinematográfico, o balanço do desempenho dos filmes brasileiros nos últimos 20 anos confirma a mudança de perfil das produções com maior apelo de público. Em que pese o fenômeno Tropa de Elite, são as comédias as campeãs de audiência. E com força para não ser uma moda passageira.
Após extinção da Embrafilme pelo governo Collor, em 1995 se deu o ano da chamada retomada da produção nacional.
De lá para cá, entre os dez filmes brasileiros de maior sucesso, todos com mais de 3,5 milhões de espectadores, estão seis comédias. Na ponta, Tropa de Elite 2, o longa nacional mais visto em todos os tempos, com 11,2 milhões de ingressos vendidos.
No ranking de 2014 da Agência Nacional do Cinema (Ancine), oito comédias figuram entre os 10 mais vistos, seis delas nas primeiras posições como únicos filmes com mais de 1 milhão de espectadores, quase todas mal avaliadas pela crítica.
“O mercado nacional encara agora uma transição”, diz Paulo Sérgio Almeida, diretor do Filme B. “Na primeira metade dos anos 2000, encontrávamos sucessos de público e crítica, como Carandiru e Cidade de Deus. Depois houve o fenômeno Tropa de Elite. As comédias redescobriram o filão de apostar em nomes e atrações populares da tevê. E isso ocorreu junto a um processo de profissionalização da produção e da distribuição. Não é um fenômeno passageiro.”
Números
Alguns dados ligados aos cinemas brasileiros:
- 1.096 filmes nacionais foram lançados entre 1995 e 2014
- 66 deles fizeram mais de 1 milhão de espectadores
- 859 somaram menos de 100 mil
- 155,6 milhões foi o público total do cinema no Brasil em 2014
- 19 milhões foi o público do cinema nacional em 2014
- 12,2% é o porcentual de público do filme nacional no mercado brasileiro em 2014 (foi 18,6% em 2013)
Quando observado um recorte mais amplo dos campeões nacionais de bilheteria, no ranking elaborado pela Ancine com dados a partir de 1970, observa-se um equilíbrio entre dramas para o público adulto e quatro filmes com Os Trapalhões, representantes de um gênero que, segundo o diretor do Filme B, faz falta no circuito.
“O problema é o grande buraco que ficou na produção responsável por levar aos cinemas o público infantojuvenil, os futuros espectadores adultos, com a saída do Renato Aragão e da Xuxa. Não tem ninguém da importância deles fazendo o que fizeram no passado. É isso que ajuda a sustentar uma indústria”, diz Almeida.
O processo mercadológico do cinema nacional, com as exceções vistas, é ainda muito amador. “Produtores e cineastas acham que marketing é palavrão. Acreditam que apenas com a qualidade de seus filmes podem enfrentar a mais poderosa indústria do mundo. Se o exibidor e o público nem ficam sabendo que o filme existe, de nada adiantam medidas regulatórias como restrição de espaço para a produção estrangeira. É como enxugar gelo”, diz Almeida.
Filmando na serra gaúcha seu próximo longa, O Filme da Minha Vida, Selton Mello sintetizou a carência do cinema brasileiro por mais filmes “médios”.
“Há hoje, no Brasil, filmes autorais, que pouca gente vê, mas que são importantes e circulam em festivais internacionais; e há as grandes bilheterias das comédias, que também são importantes, pois criam o nosso público. E o meio do caminho entre uma coisa e outra? É onde quero ficar”, diz Mello.
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