Nanni Moretti e Margherita Buy vivem irmãos que cuidam da mãe adoentada em “Mia Madre”.| Foto: Divulgação

Quando terminou a exibição de “Mia Madre”, filme do italiano Nanni Moretti em cartaz nos cinemas, uma mulher próxima a mim chorava copiosamente.

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Não se trata de nenhum spoiler, já que logo no início do filme uma médica dá aos dois filhos o diagnóstico da senhora internada: o coração dela está cansado. Nesse caso, não é o final que surpreende, mas a forma como o diretor conduz um drama pessoal ao desfecho esperado, ainda que indesejado.

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Nanni Moretti é hoje o principal nome do cinema italiano, de onde vieram a crueza do neorrealismo e o lirismo de Fellini. Moretti dialoga com ambos.

Eleito o melhor filme de 2015 por uma das publicações mais respeitadas do meio cinematográfico, a revista francesa Cahiers du Cinéma, “Mia Madre” vai do real ao surreal da forma mais sutil possível.

Margherita (Margherita Buy) é cineasta e Giovanni (o próprio Nanni Moretti), engenheiro. São eles os irmãos que se revezam para dar atenção à mãe, às vezes confusa e dizendo se sentir cada vez mais fraca.

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O centro da narrativa é Margherita, que parece carregar uma nuvem negra sobre a cabeça: além da mãe doente, tem dificuldades para rodar um filme, é obrigada a aguentar um astro americano sem noção (o subvalorizado John Turturro) e acabou de terminar um relacionamento.

Posso ter amado minha mãe, mas não era muito bom de palavras com ela. Pode ser que me faltassem as palavras que, no fundo, sabia que sobravam para ela.

Nanni Moretti diretor de “Mia Madre”.

Há um quê de autobiográfico em “Mia Madre”, já que Moretti perdeu a mãe enquanto rodava “Habemus Papam” (2011).

O risco de fazer um filme extremamente pessoal ou cair no melodrama era grande, mas o cineasta conseguiu escapar da armadilha de forma notável.

Quando está prestes a carregar no drama, ele faz rir. Quando as coisas estão ficando leves, vem um novo tranco. Passado e presente, realidade e devaneio se revezam ao natural, como uma mente confusa tal qual a de Margherita.

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A propósito, sobre Margherita Buy: que atriz! Sua personagem de sentimentos represados, que não sabemos se está a ponto de chorar, rir ou explodir, desperta a vontade de abraçá-la, chorar junto e oferecer um ombro amigo.

A atriz representa a síntese de “Mia Madre”, alguém que transporta um mundo inteiro dentro de si, expressando um tiquinho de beleza em cada pequeno detalhe.