“Soy Nero”, produção mexicana dirigida pelo iraniano Rafi Pitts é mais um título selecionado na competição oficial da 66ª edição do Festival de Berlim, sobre temas que estão na pauta de discussão de vários países no mundo.
O diretor disputa o Urso de Ouro pela terceira vez, já tendo concorrido em 2006 com “Separados pelo Inverno” e em 2010 com “O Caçador”.
Seu novo filme aborda o drama de Nero (Johnny Ortiz), imigrante em busca de uma vida melhor. Ele tem 19 anos, está tentando fugir, é capturado pela patrulha fronteiriça dos Estados Unidos e deportado para o México.
Depois de várias tentativas, finalmente consegue ir para Los Angeles encontrar Jesus, seu irmão mais velho, mas logo percebe que, como um imigrante ilegal, sua chance de levar uma vida normal é remota.
Em uma última tentativa de escapar de sua realidade desesperadora, decide se alistar no Exército dos EUA com um “green card de soldado”, buscando um atalho para a cidadania.
O filme evidencia sua situação desoladora, na qual as fronteiras entre “Nero imigrante” e “Nero soldado norte-americano” são difíceis de perceber.
Embora, no seu desenrolar, fique claro que, enquanto o soldado luta por uma nação, o imigrante luta para obter sua identidade.
Na coletiva após a projeção, Pitts disse que não queria fazer um filme sobre a questão migratória em um único país.
“Então procurei a mais absurda que poderia haver e percebi que essa era a americana. Os Estados Unidos foram construídos por imigrantes de várias partes do mundo, mas a rejeição ao estrangeiro é enorme. Por sinal, são raros os países que não receberam populações vindas de outros territórios”, destacou o diretor, respondendo a uma pergunta sobre o que pensa de Donald Trump com relação ao tema.
“Trump é o maior exemplo negativo na questão da imigração. Mas o pior é que a maioria das pessoas que deixam seu país o fazem não porque querem, mas porque precisam”, lamentou.
O outro concorrente ao Urso de Ouro mostrado ontem foi “Genius”, do canadense Michael Grandage, que até então focava sua carreira como diretor teatral.
Estrelado por Colin Firth, Jude Law e Nicole Kidman, “Genius” – que marca sua estreia no cinema – é um drama biográfico que descreve a relação entre o editor Max Perkins (Firth) e o escritor Thomas Wolfe (Law) na Nova York dos anos 30.
Perkins foi o primeiro editor a acreditar no potencial de Wolfe, que havia sido rejeitado por diversas outras editoras, mas a proximidade entre os dois acabou afetando o casamento dele com Aline Berstein (Kidman).
Na coletiva, Grandage disse que sua atração pelo tema do filme foi imediata. “Eu me dei conta que era uma história sobre um editor, sua relação com os escritores e também mostrava o que é pegar um material cru de um gênio e trazê-lo para o público”, explicou.
Indagado sobre o maior desafio para viver o papel, Firth resumiu numa frase. “O meu maior desafio foi ajustar a energia entre dois personagens tão distintos”.
Sobre sua expectativa para o primeiro filme, sendo até então um diretor teatral, Grandage disse que sempre teve confiança na interação com atores.
“A parte técnica eu desconhecia bastante, porque eu nunca estive numa escola de cinema. Então eu passei muito tempo, quase um ano observando meus amigos e também procurei me cercar de gente boa. O negócio todo foi um processo de colaboração”, afirmou Grandage, que sem dúvida realizou um bom filme nessa sua estreia atrás das câmeras.
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