“Lysístrata”, do grego Aristófanes, é uma peça sobre o poder feminino. As mulheres das cidades gregas envolvidas na Guerra do Peloponeso, lideradas por Lysístrata, decidem instituir uma greve de sexo até que seus maridos parem de lutar e estabeleçam a paz.
Em “Chi-Raq”, seu novo filme, o diretor Spike Lee inspirou-se na peça, trazendo-a para os dias de hoje no cotidiano das desfavorecidas comunidades afro-americanas de Chicago.
A violência nas ruas da cidade atingiu proporções tão altas e com tantos homicídios que os moradores de South Side – onde grande parte dessa violência está centrada – passaram a chamá-la de Chi-Raq, uma fusão de Chicago e Iraque, que para eles foi o que se tornou.
O filme está na mostra oficial, fora de competição, da 66ª edição do Festival de Berlim e foi mostrado nesta terça-feira (16) em uma lotadíssima prévia para a imprensa.
O diretor volta seu olhar para a questão num ponto de vista único, inclusive colocando o diálogo em dísticos rimados, da mesma forma como fez Aristófanes.
Um elenco estelar inclui, entre outros, Samuel L. Jackson, Nick Cannon, Wesley Snipes, Angela Bassett, John Cusack, Jennifer Hudson e Teyonah Parris, que interpreta Lysístrata.
Na coletiva após a projeção, o diretor foi franco e procurou não deixar dúvida sobre a polêmica em torno do tema do filme e também quanto ao seu título.
“Num encontro com o prefeito de Chicago, ele disse que não tinha gostado do título porque poderia afetar o turismo e o desenvolvimento econômico da região. Mas na mesma área havia atividade de todo tipo, inclusive nos hotéis e restaurantes onde eu estive”, contou Lee, acrescentando que algumas pessoas também julgam o filme não entendendo que é uma sátira.
“‘Chi-Raq’ não é o primeiro filme da história do cinema americano a usar a sátira para lidar com um assunto sensível”, ressaltou, comentando que as coisas agora estão mais calmas.
Apesar de todo o alvoroço, Lee disse que “Chi-Raq” é um filme sério, com um pouco de comédia, e que foi projetado mesmo para sacudir o status quo.
“Eu entendo que as pessoas de Chicago tenham ficado incomodadas com o filme, mas fatos são fatos. Nova York tem três vezes a população de Chicago, mas a cidade tem mais homicídios do que NY”, comparou, complementado por Cusack. “Um número grande de estados americanos faz propaganda oficial de armas”, ressaltou o ator.
Lee explicou que seu objetivo é que o filme provoque discussões e diálogos para dar esperança aos jovens. “Esperamos que as pessoas parem de agir como se nada estivesse acontecendo. Não podemos ficar em silêncio quando 23 pessoas foram assassinadas em Chicago desde o início do ano. Isso não é justo e é o que deveria importar. Estamos tentando lançar luz sobre o que está acontecendo”, afirmou.
“O alvo do meu filme é a atual geração de jovens e espero que ele salve vidas”, concluiu o diretor do hoje já clássico “Faça a Coisa Certa” (1989) que o projetou internacionalmente.
Como tem sido bastante divulgado, o próximo projeto de Lee é “Go Brazil Go”, documentário que está realizando sobre o Brasil e que tem determinado idas constantes ao país.
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