Pode ser que a grande exposição sobre François Truffaut não esteja superando os números superlativos dos eventos sobre Stanley Kubrick e Jules Verne no Museu da Imagem e do Som, mas talvez seja porque, para muitos espectadores jovens, o diretor não seja tão conhecido.
Lista
Cinco destaques, segundo André Sturm, diretor de programação do Caixa Belas Artes
Leia a matéria completaÉ claro que, como crítico e cineasta, ele se tornou referência do movimento conhecido como nouvelle vague, a nova onda do cinema francês por volta de 1960. Mas Truffaut morreu em 1984, há mais de 30 anos. Seu cinema circula nas cinematecas, ou graças ao formato do home entertainment.
Febre
François Truffaut gostava de dizer que seus filmes deveriam passar a impressão “de terem sido filmados com 40ºC de febre”. Trinta e um anos após sua morte (aos 52, de um tumor cerebral), o cineasta continua a ser cultuado como um dos mais apaixonados da nouvelle vague.
Por isso é tão importante o ciclo que começou na quinta-feira (17), no Caixa Belas Artes. A Nova Onda de François Truffaut resgata 17 filmes do diretor. Não é tudo o que ele fez, mas boa parte de seus filmes, incluindo os melhores.
Mostra
A mostra A Nova Onda de François Truffaut, que começa nesta quinta (17) e vai até o dia 30 no Caixa Belas Artes, traz cópias digitais restauradas de 17 dos 26 filmes que ele dirigiu. O legado do realizador também é contado em exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som).
Depois de (re)ver “Os Incompreendidos”, “Jules e Jim/Uma Mulher para Dois”, “O Garoto Selvagem” e “O Homem Que Amava as Mulheres”, é provável que muita gente queira volta ao MIS, ou que espectadores se sintam mais motivados a conhecer o homem por trás do artista, por meio de seu acervo pessoal.
Truffaut foi um garoto desajustado, com sérios problemas familiares. Poderia ter virado um delinquente. Salvou-o o cinema, que descobriu graças ao crítico André Bazin. Virou, ele próprio, um crítico ácido, que fustigou o que chamava de “uma tendência do cinema francês”. O cinema de papai, de domingo à tarde.
Cannes
Com Jean-Luc Godard, Truffaut liderou o movimento de filmes de baixo orçamento e argumentos intimistas. Ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes com sua estreia em longas, que eram um tanto autobiográficos: “Os Incompreendidos” (1959).
Seus mestres foram Alfred Hitchcock, Roberto Rossellini e Jean Renoir. Adaptou escritores como Henri-Pierre Roché, William Irish/Cornell Woolrich e Ray Bradbury e fez uma série autobiográfica com o personagem Antoine Doinel, interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud. Os críticos dizem que era um romântico que desconfiava do romantismo. Amava as mulheres, mas também desconfiava delas. Sua galeria de personagens ternas e cruéis é imensa. Diretor de programação do Belas Artes e diretor-geral do MIS, André Sturm convida: “Para nós é um orgulho enorme exibir um recorte tão amplo da filmografia de Truffaut. Aliado à exposição no MIS, o festival esmiúça o universo desse gênio do cinema. São filmes autorais mas que dialogam com o público. Falam das relações humanas, das paixões e suas facetas”.