Há uma semana estreava “O Último Virgem”, possivelmente um dos piores filmes lançados em 2016. Falava sobre o despertar sexual de , claro, um nerd. Nesta semana entra em cartaz o independente “Tamo Junto”, que lembra brevemente a premissa, mas com adolescentes de quase 30 anos. A surpresa é que, em tempos de comédias sem graça, o resultado traz um frescor necessário ao gênero.
Este é o terceiro filme de Matheus Souza, que estreou aos 20 anos com o elogiado e premiado “Apenas o Fim” (2008), uma ação entre amigos de baixíssimo orçamento, estrelada por um Gregório Duvivier pré-Porta dos Fundos e Erika Mader. Em “Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida” (2012), com Clarice Falcão, a receita era a mesma.
O filme nasceu da vontade de fazer uma história simples. “O fator baixo orçamento pesou menos desta vez, porque eu já tinha experiência. Consegui fazer algo que foge do padrão e, por não ter patrocínio, não precisava obedecer a nenhum formato”, comemora. “Só peço para as pessoas: vão ver! Semana que vem estreia “Rogue One” e nem eu mesmo vou assistir ao meu filme”, brinca.
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Em “Tamo Junto”, Matheus abraça o humor sem muita censura e faz, a seu ver, sua obra mais acessível. “Esse filme comunica muito mais, talvez porque os outros sejam comédias dramáticas. Uma molecada de 12 anos sai gargalhando e minhas tias também. É o que chamo de fator Pixar (estúdio de animação, que faz filmes com boas sacadas para adultos e crianças)”.
O filme conta a história de Felipe (Leandro Soares, autor do humorístico “Vai que Cola”), que termina um relacionamento na esperança de curtir uma utópica vida de solteiro. Leva uma surra digna de telecatch da namorada (Fernanda Souza, psicótica em cena) e é isolado pelos colegas com quem divide apartamento, que dependiam da influência da ex-namorada do amigo para ter algum sucesso amoroso.
Desamparado, acaba pedindo abrigo na casa de Paulo Ricardo (o próprio diretor), seu melhor amigo de adolescência, que é um outro tipo de perdedor. Infantilizado, mora com a mãe, dorme em uma cama de solteiro com lençol de super-herói e jamais teve um contato mais próximo com o sexo oposto.
Ambos descobrem pares em potencial (Sophie Charlotte interpreta a de Felipe e Alice Wegmann a de Paulo Ricardo), mas sua inadequação tragicamente engraçada trava qualquer tentativa.
Essa foi a estreia de Matheus como ator – de cinema. Ele dirigiu e atuou em peças e compara a experiência que teve ao entrar na escola de teatro O Tablado ao de Paulo Ricardo. O personagem vive um desabrochar tardio ao reencontrar Felipe. “Foi no Tablado que descobri que havia pessoas tão esquisitas como eu”, brinca. O elenco ainda tem participações de Fabio Porchat e Antonio Tabet, do Porta dos Fundos e Rafael Queiroga.
Quem viu a trilogia do diretor em sequência vai perceber que seus protagonistas anteriores também têm muito dele. Atuar no cinema era um sonho, comparável ao que Woody Allen, uma de suas principais referências, costuma realizar: escrever, dirigir e interpretar. “No fundo, eu só torcia para não estragar tudo. Eu tinha um elenco maravilhoso e não podia comprometer isso”, lembra ele.
Aos 28 anos, o diretor prodígio segue com o plano da década anterior: fazer filmes com personagens com os quais as pessoas possam se identificar. “Prêmio é legal, críticas são boas, mas nada se compara à reação do público. O cinema para mim foi aquilo quefazia com que eu me sentisse melhor e eu quero fazer isso também para outros adolescentes”, afirma.
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