Pizzicato
RadioCaos Ultravox
Fim de semana agradabilíssimo com os espetáculos de música e poesia que aconteceram ao ar livre em Curitiba, em comemoração ao aniversário do programa RadioCaos. Apresentações ensolaradas no Passeio Público, Parque Barigui e Parque São Lourenço. No próximo fim de semana tem mais. Fiquem atentos à programação. E em setembro, o RadioCaos, que já tem transmissão radiofônica em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, também se torna um programa de televisão, transmitido pela ÓTV.
Lançamentos
Vão entrar em estúdio O Fato (com produção de Pedro Luiz), Homem Canibal, Hélio Brandão e Zirigdansk. E já vêm aí os novos discos do Bernardo Bravo, da cantora Rogéria Holtz com o grupo Na Tocaia e da banda Simonami. O Trio Quintina arrecadou pelo site Catarse o suficiente para lançar discos e DVD comemorando os 15 anos da banda.
No primeiro dia de volta ao trabalho após as férias, passei no Terra Verdi, no Shopping Itália, para tomar o melhor cappuccino da cidade, feito de café orgânico, enquanto lia o Nós Passaremos em Branco, livro do Luís Henrique Pellanda, que é hoje o melhor cronista do Brasil.
Pellanda domina esse estilo literário tão brasileiro. Por entre ruas, praças e encruzilhadas, ensina-nos que o importante não é tanto o caminho, mas as pessoas do entorno. É um grande observador do humano. Um passeio com ele por entre suas frases e observações é sempre muito gratificante.
Já havia terminado meu café e ainda sorvia a literatura quando senti uma presença, uma energia sentando na mesa ao lado. Foi tão intenso que tive de levantar os olhos do livro. Quem tomava lugar ali era Hermeto Pascoal, um dos melhores músicos do mundo. Cumprimentei-o e começamos a conversar.
Ele contou que acabara de voltar de uma turnê de dez shows pela Europa, passando por alguns importantes festivais de jazz europeus. Reclamou do calor "insuportável" do verão europeu. "Na Áustria, estava terrível, nunca senti tanto calor na Áustria", reclamou o alagoano que estava por lá enquanto nevava de leve em Curitiba, cidade que escolheu para viver. Aline Morena, companheira dele, disse que adorou o calor europeu. Idiossincrasias do casal, uma gaúcha que adora calor e um nordestino que adora o frio.
Foi uma conversa rápida e agradável, que me fez lembrar de uma entrevista que não fiz com o "bruxo do som". Foi há uns 3 mil anos, eu era recém-formado, Hermeto veio a Curitiba para um show e tudo aconteceu em um hotel ao lado do Teatro Guaíra. Esperei primeiro os colegas de rádio e televisão fazerem suas perguntas para poder trocar uma ideia mais exclusiva. Quando os colegas saíram, o homem já estava cansado, inquieto. Comentei que para ele era mais fácil tocar do que dar entrevistas.
"Fazer música é muito fácil, qualquer um pode fazer", respondeu. E imediatamente, pegou uma garrafa, jogou a água dentro de uma chaleira e começou a soprar pelo bico e fazer um som. Falou para uma colega música pegar umas colheres e bater num copo e foi, aos poucos, convidando todo mundo (umas seis pessoas) para participar.
Quando dei por mim, esfregava uma faca em um pires. De repente estávamos ali todos fazendo um som. Durou, sei lá, 15 minutos ou meia hora. Hermeto tocava, nos regia e até dava espaço para alguém fazer um solo de açucareiro ou de jarra de suco. Funcionários do hotel nos olhavam entre admirados e preocupados com a louça da casa.
Voltei para a redação empolgado e queria escrever essa história. A chefia da época não aprovou e ordenou que eu escrevesse apenas a entrevista, aquela que eu não havia feito. Usei o que lembrei das perguntas dos colegas de rádio e televisão. Deve ter ficado ruim, pior do que essa lembrança que conto aqui pela primeira vez, já roída pelas traças que me atacam a pouca memória.
Daria um bom tema para uma crônica, caso eu escrevesse tão bem quanto o Luís Henrique Pellanda. Afinal, não é todo mundo que consegue fazer uma jam session com o Hermeto Pascoal e sua chaleira.
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