Quando eu era pequeno, e pensava em vida fora da terra, pensava em seres inteligentes. Como quase todo mundo. Foi uma epifania, quando eu me liguei que vida é vida. Bactéria, por exemplo.

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Hoje não é nada exageradamente otimista dizer que é quase certo que no próximo meio século (provavelmente antes disso) a gente tenha confirmação da existência atual ou passada de formas de vida de algum tipo dentro do próprio sistema solar.

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Não sei você, mas vou sentir trocentos tipos de felicidade quanto confirmarem o primeiro unicelular numa lua de Júpiter… o primeiro vestígio fóssil de vida marciana.

Agora, veio esse pasmo em torno da estrela KIC 8462852.

Pra trocar em bem miúdos, o telescópio Kepler tá lá “olhando” centenas de estrelas. E tentando pescar breves alterações na luminosidade de cada uma. Se essas alterações, por exemplo, forem periódicas, podem sugerir a presença de algum corpo que orbita a estrela.

Ou seja, eles estão tentando detectar o cisco no olho de uma estrela 95 milhões de vezes mais distante que o sol. E conseguem.

E agora eles perceberam que a nossa amiga 8462852 tem uns padrões de interferência bem doidos que sugerem vigorosamente a existência de algo em sua órbita. Mas de algo que não pode ser explicado com 100% de confiança por nenhuma das hipóteses tradicionais: planetas, detrito de uma colisão, luas em formação…

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O artigo que menciona originalmente esse problema chega perto de dizer com todas as letras o que eles nitidamente estavam loucos pra dizer com todas as letras. Ou, pra iconizar a chamada de um site de vulgarização científica: é cedo demais pra falar em alienígenas, mas eles estão falando em alienígenas.

Resumo da ópera cósmica: em diversos sentidos a melhor hipótese pra explicar as coisas que orbitam aquela KIC teria que postular uma civilização avançada que “construiu” aqueles trecos.

Mas agora tem uma coisa. Vamos supor que as tais coisas são refletores estelares destinados a obter energia barata e limpa, desenvolvidos por uma supercivilização do Cisne (a constelação onde fica a estrela), sob a liderança de um engenheiro chamado, digamos…, Joelson.

Vida inteligente. Sério! Yay!

Só que…. A estrela em questão está a cerca de 1500 anos-luz da gente. E nada pode ser mais rápido que a luz.

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Logo, se a gente quisesse dar um oi, e esperar a resposta, ia levar 3.000 anos pra terminar esse processo. Ia ser como meter um bilhete numa flecha, afinal, e esperar ela atingir o alvo. E voltar. Ou seja, claro que o Joelson devia ter morrido no meio tempo.

Agora, se você é mais ligadinho já deve ter percebido a pegadinha ainda pior. Se o que a gente está vendo da KIC é a luz que ela emite, está vendo na verdade uma luz que levou 1.500 anos pra chegar até o Kepler. Ou seja, luz de 1.500 anos atrás.

Como sempre, quando olhamos estrelas, estamos vendo o passado. Se a gente for se pautar pelo nosso exemplo, as civilizações “avançadas” podem não durar mais de uns poucos séculos. Será que a gente está vendo estruturas de um mundo extinto?

E se eles, hoje, estiverem olhando pra gente, estão vendo tipo o começo da idade média. Ou seja, nada que seja reconhecível do espaço. Nós só nos tornamos detectáveis a partir da metade do século 20, com transmissões de rádio mais potentes. Há quem diga que nosso primeiro sinal para o cosmos pode ter sido a abertura das olímpiadas de Munique, em 1936. Hitler…

Se um descendente do Joelson for ouvir, vai ser daqui a coisa de 1420 anos…

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Poucos exemplos melhores da imbricação total de espaço-tempo. Que a gente nem sente na vida cotidiana.

Os joelsonianos podem estar, ou ter estado aqui. Mas nós vamos permanecer inacessíveis por causa da distância.

Exatissimamente como o Caetano de 1991, entrando numa sala de aula de um conservatório de música, existe, existiu, tem realidade, mas está inacessível por distante.

Ou as duas coisas são uma ficção? Qual das duas ideias te deixa mais sozinho?