| Foto: Ilustração: Osvalter Urbinati

Sabemos que o curitibano típico é aquele cara que você vê todo dia, mas com quem nunca conversou. É assim o Joaquim. No café da firma, durante a mexidinha no açúcar, rola um "opa", e não muito mais. Se por acaso vocês sentarem perto um do outro, depois de alguns meses de trabalho, viva, estabelecerão conversas ocasionais. Compreenda, entretanto, que elas acabam antes do previsto. Ou com o Joaquim voltando seus olhos para a tela do computador, embora ainda conversando, já que ele não é, como todo mundo pensa, mal-educado. Ou, se vocês estiverem em pé, com ele subitamente seguindo a qualquer direção, ao mesmo tempo em que prolonga o fim da frase derradeira com a ajuda de uma risada mal-ajustada. "Vou aliiiiiiiiii..." Há Joaquins que preferem ir ao banheiro para dar um tapa no penteado. Outros vão em busca de um copo d’água, mesmo sem sede.

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É possível reconhecer o Joaquim quando lembramos do que é capaz, ironicamente, o sistema nervoso simpático. Mesmo os tipos mais confiantes ruborizam quando falam em público, contam uma piada – caso que exige doses cavalares de cangebrina – ou defendem sua opinião, por mais que tenham razão. A adrenalina acelera o batimento cardíaco. As pupilas se dilatam. Os músculos se retesam. Assim estamos prontos para nossas guerras particulares.

No bar, o Joaquim brilha. Revê sua posição no mundo e coloca em xeque todas as suas crenças quando está na metade de um chope e o garçom, "onde já se viu?", lhe oferece outro. Não estamos acostumados a receber tamanha atenção.

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Quer encontrar um curitibano típico na rua? Procure uma fila na sombra. Há um silêncio rotundo que a percorre de cabo a rabo. Existe a chance de você estar no fim da fila e, quando chegar sua vez de pedir uma casquinha na Rua das Flores ou um Chocomilk na Confeitaria das Famílias, saber que aquele caixa não está funcionando. "Pomba!" A informação até existe, lá no começo. Fazê-la chegar ao último Joaquim ainda é um desafio para toda a ciência.

Em shows, o desastre para o Joaquim é quando a plateia começa a bater palmas. Putz. É preciso ritmo. Levantar-se da poltrona para, com cara de banana flambada – um sorriso frouxo, sem mostrar os dentes – bater as mãos uma na outra. Devagar para não chamar atenção.

O Joaquim prefere arder no fogo de mil infernos a assistir a uma peça interativa. Comichões surgem quando ele imagina uma atriz empetecada lhe convocando para o palco, com a cara de quem cerca um animal para o abate que não demora. Não dá.

Um grande atentado ao status quo Joaquiniano é o Palhaço da XV. Aos sábados, qual um Moisés brincalhão, ele divide a multidão de Joaquins, que preferem se espremer nos corredores laterais, como ratinhos acuados, a descobrir o que aquela figura pode aprontar. Em dias de poucos "estrangeiros" nas ruas, o palhaço convive com a solidão. Sentimento que deve ter aprendido na lida diária com os milhões de Joaquins que o ignoram silenciosamente.

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