A depressão tornou-se a maior doença do mundo (ou sempre foi e a gente não sabia), e, como as crises de coluna, ataca todo mundo ao menos num dia. Quando tive uma crise depressiva, fui curado rapidinho por minha mulher, através de um bilhete que guardo com carinho:
"Domingos, você é uma dádiva na minha vida, um homem tão vigoroso quanto carinhoso, um artista que faz sua arte com tanto empenho como cuida da casa e dos cachorros, das plantas e de mim. Agradeço a Deus por ter te encontrado".
Há alguns dias fizemos almoço de aniversário, aqui em casa, e recebi muitos presentes dos amigos. Mas o melhor presente foi de minha afilhada Patrícia, uma carta com alguns trechos que me tocaram muito:
"Você é muito especial, e desejo que tenha muitos anos de vida para ficar junto com a gente. Com esta simples carta, quero te mostrar meu respeito, carinho e gratidão".
Simples, não? Mas como funciona! Como também o cartão que todo ano recebo do mestre Iran Martin Sanches, que este ano exibia uma foto de orquídeas, adivinhando essa minha mais recente paixão.
E Dalva também me escreveu uma carta de aniversário: "Se eu fosse poeta, escreveria uma poesia para retribuir o quanto você é generoso e amoroso comigo. Só se pode amar o imperfeito, e me sinto completamente amada por você, que tem a alma cheia de amor para relevar todas minhas imperfeições".
Se as boas palavras fazem muito bem quando ditas, quando escritas ganham mais poder.
Nos tempos pré-net, as pessoas trocavam cartões natalinos, tantos e tão banalizados que nada diziam, repetindo a fórmula "feliz Natal e próspero ano novo". Mas uma carta ou bilhete, de próprio punho, com letra caprichada e palavras boas no melhor estilo da pessoa, realmente alimentam felicidade e nos fazem sentir prósperos de amizade e amor, que é a prosperidade mais compensadora.
Minha mãe, quando veio morar aqui na chácara, recebia visitas de algumas antigas amigas. Uma sentou ao lado dela no sofá e despejou queixas e reclamações, mágoas e críticas, minha mãe apenas ouvindo. Quando a mulher cansou de vazar rancor e amargura, Dona Maria pegou a mão dela e falou:
Você vai superar tudo isso, viu, porque é uma pessoa muito boa, você merece ser feliz.
A mulher abraçou e chorou tanto no ombro dela que, quando se foi, tive de trocar a blusa de minha mãe, e lhe perguntei:
Mãe, essa sua amiga só falou mal de outros, e a senhora disse que ela é boa, por que?
Pra ver se ela melhora. Falar mal dos outros só faz mal pra gente mesmo. E falar bem faz bem pra quem fala, faz bem pra quem ouve e também pra quem é falado.
Ela ficou mirando o vazio um bom tempo, até que me olhou sorrindo:
Uma vez li, não sei onde, que o mal só vence quando o bem descuida.
Quando ela ficou tão doentinha que já não conseguia quase falar, me olhava com olhos que tentavam dizer uma coisa só, que gostava de mim e não queria dar trabalho, eu lia isso perfeitamente em seu olhar, então peguei sua mão e lhe disse no ouvido bom:
Mãe, a senhora não dá trabalho, só me dá orgulho de poder cuidar de quem tanto cuidou de mim. E eu amo você não só porque é minha mãe, mas porque é uma pessoa muito inteligente, uma mulher que deu tantos exemplos de coragem, uma cidadã que fez tanto por tanta gente. Eu tenho orgulho de ser seu filho!
Seus olhos se molharam, enquanto ela me apertava a mão com o restinho de força que tinha. Depois, quando ela se foi, fiquei feliz, sabendo que tinha lhe dado tudo o que podia de melhor, boas palavras.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Deixe sua opinião