Poli-família

Na sala, mulher olha pela janela, espantada; marido fala diante de espelho.

– Querida, acho que achei um fecho ótimo para meu discurso no horário eleitoral!

– Vem ver quanta gente lá fora!

– Depois. Agora, veja isto. (Fala ao espelho) "Filie-se ao PQP para fazermos uma nova política! Vem para o PQP!" Que é que você acha?

– Acho que você devia ouvir o que estão gritando lá fora: vem pra rua, vem pra rua!

Marido vai à janela.

– Nossa! O que tanta gente está fazendo na rua?

– Você devia saber, você é o político, não é?

No quarto, o filho adolescente sussurra ao amigo:

– Olhaqui, cara, comprei quatro sprays, vai dar pra pichar muuuito! E tirei gasolina do carro do pai, enchi duas garrafas. Com dois coquetéis molotov a gente arma uma baita confusão na passeata!

– Mas eu andei pensando...

– Qualé, cara, vai michar agora?! É a hora de acender o caos, nós somos a faísca da explosão!

– É que eu andei pensando...

– Esse é teu problema, cara, quer fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ou a gente anda ou a gente pensa! Vamos lá! Pega aí teus bagulhos e vamos lá!

Na sala, o avô vê tevê e fala ao amigo também veterano de guerra.

– Essa polícia não vale o feijão que come! Quem faz baderna e depredação são grupos pequenos, que eles podiam perfeitamente prender, mas ficam entrincheirados atrás dos escudos, lançando bombas de gás que só aumentam a confusão! Artilharia é pra impactar, infantaria é pra ocupar terreno, mas nessa situação é preciso tática de cavalaria!

– Jogar cavalos contra o povo? Com lanças e sabres?

– Não, com tática de cavalaria: investir e eliminar!

– Eliminar como, com balas de verdade?!

– Não, com algemas! Um avança com escudo, protegendo outros dois, e pegam um vândalo, derrubam, algemam, deixam no chão!

– É mesmo, né, mas acho que falta equipamento.

– Algemas?

– Não. Coragem.

No quarto, a avó coloca a neta para dormir.

– Dorme, filhinha, a barulheira já passou, não se assuste mais.

– Não me assustei, vó, só me espantei. Tanta gente! Aqui no tuiter tem cada foto!

– Deixa eu ver. "30 bilhões para a Copa, e minha avó há 3 anos na fila do SUS". Menina, você não devia ver essas coisas!

– Ih, vó, não seja Ronaldo. Olha esta: "País desenvolvido não é onde pobre tem carro, é onde rico anda de transporte público!"

– Ah, menina, lembro que no tempo dos bondes...

– ...a França e a Inglaterra já tinham metrô, vó.

– É, você sabe tanta coisa... Nem quer saber mais de historinha...

– Melhor História, vó. Mas me explica uma coisa.

– Diga, filha, diga!

– Que que é constituinte chapa-branca?