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É ficar piegas ao ponto de imitar fórmulas sentimentais como esta.

É assistir o mesmo desenho animado pela décima vez e gostar cada vez mais porque os netos gostam cada vez mais.

É, ao trocar a fralda, fechar os olhos se perguntando: será só xixi ou também cocô? E depois achar ótimo porque o neto te sorri com a bundinha limpa.

É acostumar-se a que, para tudo que você falar, o neto sempre responderá: "Por quêêêê, vô?"

É aprender a lidar com cadeirinhas de carro, esperando que a indústria automobilística, com tantos gênios de design, um dia invente coisa mais prática.

É controlar a vontade de proteger demais e a preguiça de proteger de menos.

É apoiar os pais quando eles dizem não ao teu neto, e, se discordar, conversar depois com eles longe do neto, jamais confrontando sua autoridade.

É não ser bobo dos netos, que podem até te fazer de cavalinho, mas não te esporear.

É deixar o neto puxar o peixe, mesmo com muito risco de perder o peixe e até a vara, e, se isso acontecer, dizer que ele está aprendendo e um dia vai pescar melhor que o vô.

É fazer cara de delícia ao comer verduras e legumes, e não fazer cara feia se eles insistirem no arroz com carne e batata.

É ler ou contar histórias para eles por gosto, não por obrigação, porque eles sempre vão perceber se o vô não estiver gostando do seu papel, aí toda história será chata, e, se o vô estiver gostando, toda história será interessante.

É lembrar sempre que teu ensinamento não sai da boca, ao contrário, a boca pode até te desmentir, porque o que ensina mesmo é o exemplo.

É dar exemplo de amor ao ambiente, não falando das plantas, mas plantando com eles; não falando das águas, mas vadeando o riacho com eles; não falando do lixo, mas catando lixo com eles.

É dar exemplo de respeito às pessoas, dando bom dia até aos desconhecidos, tratando como cidadãos os jovens, tratando como gente as crianças, tratando os idosos com carinho, e tratando os tratantes como irmãos que precisam de ajuda.

É dar limites não como quem dá castigo mas proteção, é dar prêmios não como quem suborna mas como quem reconhece méritos, e também dar elogios só se forem merecidos.

É falar "levanta, não foi nada", mesmo diante do maior tombo, mas sem esquecer do amparo e do abraço imediato.

É dar opinião sem querer ditar norma, mas sempre dar a tua opinião porque você tem esse dever, vô, ou viveu até agora pra quê?

É saber olhar e ver no neto o broto da rebeldia, o nó da angústia, a faísca do gênio, a fúria do animal, a olheira do vício, o tique do tédio, a névoa da confusão, o vírus do fanatismo, a cedilha da insegurança, e dizer: "e aí, me fala disso" (e só isto, vô, sem conselhos a dar mas pronto para conversar).

É ouvir o passarinho e dizer "ó o passarinho"; ver a flor e dizer "ói a flor"; e ao cheiro ruim dizer "uuuh", ao cheiro bom dizer "aaah"; e o teu neto decerto irá te continuar na procura e no gozo de uma vida gostosa e um mundo melhor.

É deixar claro, sempre, que o bem é bom e o mal é ruim, ou o teu próprio neto, vô, será teu bandido e teu algoz.

É lembrar que no teu neto está o que você foi e será, o teu DNA (Direito Natural de errar e Acertar), então perdoar, entender, aceitar, apoiar, conversar sem julgar nem condenar (ou, então, vô, olhe-se, olhe para trás e veja se também não errou, ou você já nasceu avô?)

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