João Emanuel Carneiro está numa enrrascada. Com a primeira semana da novela Avenida Brasil recheada de elogios, o autor do folhetim (que também assinou A Favorita) tem pelo menos oito meses pela frente para segurar uma audiência encantada com os primeiros capítulos.
A fórmula parece fácil: criança injustiçada retorna para vingar seu algoz. E, justamente por isso, vai exigir mais do autor, para fugir de diálogos óbvios, cenas enfadonhas e erro na dosagem entre o bem e o mal em seus personagens.
Mas a interpretação do elenco e a direção de arte da novela até agora fizeram da história banal um show de entretenimento. Logo no primeiro capítulo, emoções em doses cavalares: roubo, traição, final de campeonato de futebol, pedido de casamento, atropelamento e morte. A sequência do atropelamento de Genésio (Tony Ramos) por Tufão (Murilo Benício) foi arrebatadora: ritmo, luz, clima, tudo no tempo certo. Os desavisados poderiam confundir com o fim de uma história, e não o começo, a contar pela concentração de eventos importantes num mesmo dia.
Adriana Esteves, no papel da "má-drasta" Carminha, brilha nas interpretações duplas que precisa fazer, tanto para os telespectadores quanto para os colegas-personagens. Muda de caráter em um piscar de olhos, alternando a viúva-vítima e a vilã, disposta a tudo para atingir seus objetivos. Suas expressões se transformam instantaneamente, em cenas sem cortes. Um exemplo foi a em que soube da morte do marido pelo policial, quando esperava ser flagrada nas maldades contra a enteada. As duas Carminhas de Adriana certamente vão arrebatar o público, para odiá-la duplamente.
A atriz também vai precisar de sorte para manter o pique na interpretação da malvadona e contracenar com seus parceiros. Além de Adriana, Marcello Novaes, o malandro Max, também estreia na vilania. Mas não teve um desempenho tão brilhante quanto a sua companheira na trama. A expectativa agora está por conta do embate com Débora Falabella, a Nina, em quem Ritinha se transforma na fase adulta. E novamente Carneiro tem um bom desafio pela frente: manter o equilíbrio dos personagens para evitar a heroína chatinha contra a vilã esperta. A torcida no sofá agradece.
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