Pedro Bial: superficialidade não é uma imposição do tempo| Foto: Raphael Dias/ TV Globo

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Na Moral

Quintas-feiras, à meia-noite. TV Globo.

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Há um ano, neste mesmo espaço, eu saudava a volta do Pedro Bial "relevante", a bordo do seu Na Moral; descontava a impossibilidade de debates muito consistentes em um programa de pouco mais de meia hora de duração; e questionava se haveria polêmicas suficientes para manter o fôlego da atração e o interesse dos telespectadores.

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A julgar pelos dois episódios que já foram ao ar na nova temporada – "Fim da Guerra", sobre a descriminalização das drogas (exibido no último dia 4), e "Quanto Vale o Corpo" (tema da última quinta-feira) –, a conclusão é de que o programa começa a perder o rumo, e "se aprofunda na superficialidade".

Pior: em alguns momentos, parece se afastar de uma de suas mais interessantes premissas – a de não tomar partido nas discussões. Foi o caso da estreia da nova temporada, sobre a questão das drogas. Embora tenha havido o contraditório com a novidade dos "duelos de argumentos" – na ocasião, foram chamados os policiais Orlando Zaccone (da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a favor da legalização) e Mario Sergio Duarte (ex-comandante-geral da PM do Rio, contra), e os médicos psiquiatras Antônio Geraldo da Silva (contra) e Dartiu Xavier da Silveira (a favor) –, os três convidados principais (Marcelo D2, Fernando Henrique Cardoso e Fernanda Montenegro) se manifestaram a favor da descriminalização das drogas – ainda que com argumentos altamente defensáveis.

Além disso, o espaço para os defensores da manutenção da proibição da venda e do consumo de drogas nos dois "duelos", de cinco minutos de duração cada, foi irrisório: no primeiro, o coronel Mario Sergio praticamente concordou com o delegado Zaccone, e admitiu que a PM "enxuga gelo" no combate às drogas; e no debate entre os psiquiatras, a discussão virou um mini bate-boca sem sentido. Sem falar na condução de todo o programa por Pedro Bial, nitidamente inclinada para a descriminalização.

O programa da semana passada, por sua vez, não foi tendencioso – mas pecou pela superficialidade com que o tema ("Quanto Vale o Corpo") foi tratado. Para discutir o assunto, Bial convidou o onipresente Marcelo Adnet ("que vive do corpo, principalmente da cabeça"), o economista (e irmão do comediante Bussunda) Sergio Besserman, a funkeira Valesca Popozuda (que chegou a fazer um seguro do bumbum no valor de R$ 5 milhões) e um corretor de seguros – além de contar a história do casal Ivonete e Pedro, que alugou uma barriga na Índia (onde o procedimento é legal) por US$ 32 mil, para ter uma filha.

Aliás, foi o depoimento do casal que salvou o programa, já que os quatro convidados "oficiais" pouco contribuíram para a discussão. Pior foi a participação da jovem catarinense Catarina Migliorini, que leiloou a virgindade (mas acabou mudando de ideia na hora de fechar o negócio): uma ponta em um clipe bizarro estrelado por Marcelo Adnet. Ou seja, Bial perdeu uma excelente oportunidade de convidar a moça para falar sobre a sua experiência – o que poderia ter enriquecido o debate.

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Depois desses dois programas, fica a impressão de que a superficialidade não é uma imposição do tempo. É opção editorial...