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Romance

As Virgens Suicidas

Jeffrey Eugenides. O livro acaba de ganhar uma tradução nova pela Companhia das Letras (232 págs., R$ 39,50), feita pelo escritor Daniel Pellizzari. A anterior, publicada pela Rocco e reeditada pela L&PM, é da também escritora Marina Colasanti e está esgotada.

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As Virgens Suicidas, romance de estreia de Jeffrey Eugenides, publicado pela primeira vez em 1993, é narrado na primeira pessoa do plural, um recurso incomum que contribuiu para a fama do livro. Esse "nós" que narra a história é um grupo de homens de meia-idade que passou a adolescência fascinado pelas irmãs Lisbon, cinco garotas com idades entre 13 e 17 anos que, uma a uma, cometeram suicídio.

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O fim trágico delas serviu para aumentar a obsessão dos jovens, que passaram a recolher informações e a entrevistar pessoas como se investigassem um crime. Os narradores, e todos os outros que vivenciaram o episódio de alguma forma, não conseguem entender as razões das adolescentes.

"É óbvio, doutor, você nunca foi uma menina de treze anos", diz Cecilia ao médico, logo nas primeiras páginas. Ela foi a primeira a tentar se matar, cortando os pulsos, mas foi salva em tempo. Depois, tentou de novo e conseguiu, saltando da janela do quarto para cair sobre a cerca em torno da casa.

Na ficção e na vida, buscar as razões de um suicida é um esforço mais ou menos inútil. Entre os entrevistados pelos narradores, médicos falam em quadros depressivos, conhecidos inventam teorias conspiratórias e os pais simplesmente desistem de tentar entender.

Eugenides descreve um cenário sufocante. As meninas eram cerceadas pelos pais – principalmente pela mãe, tendo o pai como cúmplice – e viviam trancafiadas em casa, de onde só saíam para ir à escola e à igreja. Mais tarde, nem isso. A mãe as proibia de usar maquiagem e só aceitou fazer uma festa para os colegas de escola das filhas depois de Cecilia cortar os pulsos.

À medida que avança, o livro dá várias outras pistas sobre a solidão e sobre o isolamento das garotas. Embora fossem cinco, vivessem juntas e parecessem unidas – inclusive na morte –, as irmãs eram extremamente sós.

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É tentador olhar para a situação – um dos personagens adultos faz isso – e explicar que elas morreram porque não tinham amigos nem namorados. Ou porque não podiam ter, afinal viviam presas em casa. Mas a solidão delas não parece deprimente (aos olhos dos narradores pelo menos). Elas tinham uma rotina simples, de pequenos eventos. Tomavam sol no jardim, trocavam confidências nos quartos, estudavam música...

O comportamento delas na escola não podia ser descrito como sociável. Elas eram consideradas "estranhas", ainda mais depois do primeiro suicídio. A certa altura, uma das irmãs, Therese, se não me engano, diz que a única "estranha" era Cecilia. As outras queriam viver a vida, se os outros as deixassem.

Há qualquer coisa inconciliável na existência das Lisbon. A adolescência que não se encaixava na educação severa. A sensibilidade à vida que não tolerava o microuniverso em que viviam. A solidão que brigava com os desejos que não dependem apenas de você.

No fim, o mais provável é que não há explicação. O truque talvez seja conviver bem com as dúvidas, ainda que tenha de cavar muito até chegar neste ponto.