• Carregando...
Jane Elliott ganhou notoriedade mas também foi odiada pela proposta do exercício | Reprodução
Jane Elliott ganhou notoriedade mas também foi odiada pela proposta do exercício| Foto: Reprodução

Foi com sorte que me deparei na última quarta-feira com o excelente documentário Blue-Eyed/Brown Eyed, exibido no canal pago GNT com o título Olhos Azuis. Apesar de ter sido lançado há quase 20 anos, o que é descrito no filme não poderia ser mais atual para refletirmos sobre a intolerância, que tem sido uma pauta tão recorrente no país quanto a onda de calor.

Infelizmente, casos de agressões aos gays continuam crescendo. No fim do mês passado, o jovem Bruno Borges de Oliveira, de 18 anos, foi espancado até a morte da região da rua Augusta, em São Paulo. Nessa semana, a vítima foi o biólogo Juliano Polidoro, que andava pela mesma região e foi agredido por um homem que tentou lhe passar uma rasteira. Juliano voltou para questionar a atitude e acabou apanhando. Felizmente, os danos físicos não foram graves. Mas, e a humilhação?

Em depoimento nas redes sociais, Juliano citou justamente a humilhação completa que sentiu. Na revista Época, ele escreveu que decidiu não se calar, registrou boletim de ocorrência e não quer que o medo "pare a sua vida", apesar da preocupação dos pais.

Em Olhos Azuis nos deparamos com todo o sentimento de humilhação e angústia de quem sofre preconceito. O filme mostra um exercício criado pela educadora, socióloga e ativista norte-americana Jane Elliott em 1968, após o assassinato do líder Martin Luther King. Na época professora de crianças em Iowa, ela não sabia explicar o porquê da morte de King para a turma, que elegera o líder como "herói do mês."

Então, a professora perguntou às crianças se elas gostariam de tentar um exercício para sentir como uma pessoa negra era tratada nos Estados Unidos, e fez a segregação pela cor dos olhos: dividiu a turma em olhos azuis e castanhos. Cada dia, um desses grupos foi considerado melhor do que o outro – os "piores" tinham de usar um pequeno colar de tecido para se diferenciar.

A equipe "melhor" ganhava privilégios extras, ignorava os outros colegas e se sentava na frente da sala. Elliott também não permitia que eles compartilhassem bebedouros.

Os registros mostrados no documentário são assustadores. Rapidamente, as crianças no comando se tornavam autoritárias e arrogantes. Há registros dos semblantes das crianças com e sem o colar. A diferença é gritante.

Com a notoriedade do exercício (mas também com os problemas, já que muitos odiaram a educadora pelo experimento) Elliott passou a repeti-lo com adultos, que conheciam a proposta e aceitaram voluntariamente participar da experiência exibida no documentário. Mesmo assim, a maioria deles ficou abalada emocionalmente, muitos choraram e, até aqueles que tentaram resistir ao preconceito acabaram "abaixando a cabeça".

Entre um jogo psicológico e outro, Elliott questionava o grupo. Quando um deles foi humilhado, por exemplo, ela pediu por que ninguém do grupo havia saído em defesa dele. A resposta de um dos voluntários: "se você implica com o outro e não comigo, terei paz pelo menos por pouco tempo".

Prontamente, Elliott respondeu com uma lição valiosa: se você vê uma situação de preconceito e não reage para modificá-la, você é cúmplice.

O documentário está disponível na íntegra, com legendas em português, no YouTube.

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]