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Cena de "Das Weisse Band", de Michael Haneke | Divulgação
Cena de "Das Weisse Band", de Michael Haneke| Foto: Divulgação

Seis vezes selecionado para a competição oficial, o polêmico diretor austríaco Michael Haneke, de A Professora de Piano, voltou nesta quinta-feira (21) a Cannes com um dos filmes favoritos a conquistar a Palma de Ouro, "Das weisse band", que mistura sociologia e sobriedade apavorante e que acabou ofuscando o também ótimo "À l'origine", de Xavier Giannoli.

Nesta reta final do Festival de Cannes, que se encerra no domingo, também estão bem cotados para o prêmio máximo o francês "Un prophète", de Jacques Audiard, e "Bright star", de Jane Campion, ambos bem avaliados pela crítica internacional.

Iconoclasta e revolucionário, em várias ocasiões Haneke descreveu a si mesmo como um otimista que acredita que o espectador reagirá aos golpes secos do cinema que faz: "todos os meus filmes falam da violência, é impossível não lidar com isso se você está filmando no mundo atual", disse em entrevista coletiva na manhã desta quinta.

Das weisse band (em português, a fita branca) conta a história de um vilarejo no norte da Alemanha que vê sua rotina alterada quando uma série de crimes começam a acontecer envolvendo seus habitantes - crianças inclusive.

Filmado em preto-e-branco e ambientado às vésperas da Primeira Guerra Mundial na mesa região onde surgiria mais tarde o nacional-socialismo, o longa se serve deste microcosmos para retratar, "com distância, evitando o naturalismo", as devastadoras consequências dos rígidos padrões morais e sua projeção sobre as novas gerações.

"Quando os ideais se tornam absolutos, eles podem acabar se traduzindo em fanatismo. Todas as formas de terrorismo, seja ele político ou religioso, vêm dessa fonte", refletiu. "Mas não é porque é [ambientado na] Alemanha que estou falando só de fascismo. Trata-se de um problema que corresponde a todos", prosseguiu.

Mais uma vez, Haneke situa uma misteriosa ameaça como elemento desestabilizador de um núcleo humano de aparência mais que perfeita e deixa o final em aberto. "Um artista deve levantar questões em vez de dar as respostas. O que faço é tentar apresentar um mundo e seus problemas, mas seria uma coisa idiota ou mesmo perigosa se eu desse também as soluções", justificou. "Meus filmes são como um salto de esqui. Cabe ao espectador entrar nele."

"À l'origine"

É mérito dizer que À L'origine soube disputar de igual para igual com o grande adversário deste oitavo dia de mostra competitiva. Com o longa-metragem, o francês Xavier Giannoli volta a Cannes após Canções de amor.

Gérard Depardieu, protagonista desse filme, assume agora um papel de coadjuvante e cede o papel central a François Cluzet, que, pela ótima interpretação, pode entrar facilmente para os mais cotados a vencer na categoria melhor ator.

O mérito dele - partilhado com Giannoli - é dar credibilidade ao processo emocional de um ladrão que, ao sair da prisão, se aproveita de uma cidade com alto índice de desemprego e os engana com a construção de uma estrada.

Dessa fraude inicial, e após a esperança que a notícia provoca em todas as pessoas, ele "percebe que é uma grande responsabilidade que o povo acredite nele", explicou o diretor.

Por isso, o protagonista começa a se enrolar na mentira e passa a uma situação insustentável que vai evitando milagrosamente que se depare com a realidade, mas que está condenada ao fracasso.

Giannoli retrata com uma mão sutil o paradoxo do homem que descobre a verdade através da mentira e que descobre a nobreza através de um ato criminoso. Baseado em fatos reais, "À l'origine" adota o tom de fábula - realista - sobre a construção das metas vitais.

"'À l'origine' fala do medo de se envolver na vida", explicou Giannoli, que apesar de tudo defende o carisma do protagonista. "Se vivemos em um espírito de ceticismo, não podemos ter vida social nem democracia", acrescentou.

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