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edições do periódico foram publicadas desde abril de 2000
História
Rascunho foi criado em Curitiba, em 8 de abril de 2000, pelo seu editor, o jornalista e escritor Rogério Pereira. Atualmente a versão impressa do jornal é distribuída para todo o Brasil e a versão online está hospedada no site da Gazeta do Povo. O Rascunho publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poesias, crônicas e trechos de romances) e ilustrações.
48 páginas
tem a versão impressa do Rascunho, agora no formato berliner.
Paiol literário
O encontro ligado ao Rascunho é organizado desde 2006 e traz escritores brasileiros para bate-papos com leitores. O Paiol Literário recebeu dezenas de escritores como Reinaldo Moraes, Carlos Heitor Cony e Nelson Motta. Em 2013, o evento gerou polêmica entre o idealizador Rogério Pereira e a Fundação Cultural de Curitiba, após a decisão do órgão público de deixar de ceder o espaço e repassar verba ao projeto.
R$ 84
É o preço da assinatura anual do jornal literário Rascunho
No cenário paradoxal da literatura brasileira, em que escritores tem status de celebridade sem que isso reflita em venda ou formação de novos leitores, o jornal literário Rascunho completa 15 anos. Do periódico criado em abril do ano 2000 na mesa do tradicional Bar do Pudim, em Curitiba, por um grupo de amigos liderado pelo jornalista e escritor Rogério Pereira, só sobrou o guardanapo onde foram feitas as primeiras anotações. Publicando mensalmente ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção e ilustrações, o Rascunho cresceu: tem distribuição nacional, assinantes pagos e relevância no (pequeno) campo da discussão literária no país. Uma importância forjada com algumas polêmicas como a capa que tratou dos cinquenta anos da poesia concretista (“50 anos de enganação”, dizia o título) ou o ensaio que atacou Paulo Leminski em meio às celebrações de seus 70 anos. Em entrevista à Gazeta do Povo, Pereira fala sobre a trajetória do periódico e o momento atual da literatura nacional.
No editorial da edição de 15 anos, você disse que a data não é para ser propriamente comemorada. Por que?
É uma provocação. É muito difícil manter uma publicação como o Rascunho do ponto de vista comercial. Demanda tempo, esforço e investimento. Disse isso porque, no fundo, prefiro continuar fazendo o jornal nos próximos 15 anos do que ficar comemorando marcas. O importante, para mim, é sempre fechar uma edição todo mês. O desafio é sobreviver a cada próximo número.
Se no Brasil as pessoas leem poucos livros, porque leriam um jornal sobre literatura?
Sobre essa questão você pode ser muito pessimista ou muito otimista. Tento manter um equilíbrio. Acho que se lê pouco, não há dúvida. Especialmente, ficção. Existe, no entanto, campo de atuação para um jornal como o Rascunho. Num país continental com 200 e tantos milhões de pessoas, existe sim um público que se interessa por literatura. Quem sabe umas 50 mil pessoas, não sei. Pode ser pouco. Mas existe um mercado editorial aquecido, existe uma literatura brasileira sendo feita – não sei se boa ou ruim. Neste cenário, acho que o jornal é importante, principalmente a edição de papel, que sobrevive e serve como uma chancela importante para a literatura.
É essa tradição que fortalece o jornal?
O que fortalece é a ausência de outros espaços. Mesmo nos grandes jornais, os espaços são raros. Há uma ou outra iniciativa pessoal, mas que não consegue alcançar a projeção que o Rascunho conquistou com sua história. Em 15 anos, você é lido até por quem não queria te ler. Uma hora o cara esbarra em você. Eu ainda sou otimista, as coisas vão mudando, mas tentamos acompanhar as mudanças sem perder a natureza do jornal: textos mais longos, discutindo a literatura da melhor forma possível. Colocar a literatura no espaço em que a gente acredita que ela deva estar.
Atualmente, alguns escritores são verdadeiras celebridades, mas isso não se reflete na venda de livros ou aumento dos índices de leitura. Como explicar?
Muitas vezes os autores são celebrados não pela sua obra, mas por sua presença física. O que é um grande equívoco. Não acho ruim a proliferação de eventos. Pelo contrário, acho muito bom que a literatura seja discutida e ganhe espaço na sociedade. Em alguns casos, o autor vai aos eventos, mas o livro fica em segundo plano. Não sou contra encontros com escritores, eu mesmo os promovo há anos. Conversar com o escritor pode até ser decepcionante às vezes. Um escritor ser celebrado, mas não ser lido, é um descompasso.
Por que este fascínio recente pela figura do escritor?
É uma questão que perpassa a sociedade. O espetáculo e a exposição são constantes na nossa vida. Isto reflete na literatura, criando essa quase necessidade de que os autores se tornem celebridades públicas. Alguns se tornam mesmo. Não acho necessariamente ruim, mas não é o mais importante. O mais importante é a formação de leitores. É atrair alguém para ser um leitor a vida inteira. O problema no país é esse: a capacidade de formar leitores a partir das escolas e das famílias, e não colocar a literatura no centro das atividades sociais.
Nestes 15 anos, o Rascunho comprou algumas brigas e polêmicas. Foi algo premeditado?
O Rascunho teve fases distintas. No começo era muito iconoclasta. A gente era relativamente jovem e queria chegar fazendo barulho. Era quase uma guerrilha. Tivemos muitas polêmicas que foram importantes para transformar o jornal num espaço livre, plural e democrático para discussão da literatura. Hoje, penso que o jornal é um pouco mais equilibrado, mas ainda mantém a postura combativa. Isso é bom. Nossos detratores podem até dizer que é uma panela, mas a nossa briga é amplificar vozes distintas, editoras menores, autores ainda não consagrados. E por aí que vamos nos próximos 15 anos.
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