A história é conhecida: na virada dos anos 2000, a troca de arquivos online colocou gravadoras e artistas de joelhos. Desde então, uma série de tentativas foi feita para estancar a sangria causada pela queda das vendas de CDs. A mais recente delas, o streaming, parecia a solução definitiva. Mas o lançamento de um novo serviço do gênero, o Tidal, indica que essa sutura parece não ser tão simples. E que os artistas já se veem em uma nova encruzilhada.
Encabeçado por Jay Z, o Tidal conta com o apoio de artistas tão díspares (e ricos) quanto Beyoncé, Kanye West, Jack White, Daft Punk, Arcade Fire, Coldplay e Nicki Minaj. Nas entrelinhas de um discurso panfletário e marqueteiro (que fala inclusive em revolução), reside a simples busca por uma audiência cada vez menos refratária em pagar para consumir música — segundo levantamento da Nielsen Music, o crescimento do streaming em 2014 foi de 54,5% e já ultrapassa US$ 1 bilhão em receita. Resumindo, as estrelas querem pegar esse bonde para não deixar de ganhar mais dinheiro.
O diferencial do Tidal (ainda indisponível no Brasil) é um suposto foco na qualidade e na justiça. Qualidade porque oferece músicas em FLAC (tipo de arquivo mais fiel ao áudio original que o MP3); justiça porque, reclamam os músicos, o repasse dos serviços de streaming mais populares, como Spotify, Deezer e Rdio, é pouco. Para sustentar essa ambição, o Tidal não dá a colher de chá de seus concorrentes e só opera com mensalidades de US$ 9,99 a US$ 19,99. É aí que residiria um dos problemas.
“Quem busca um serviço de streaming não está necessariamente interessado em qualidade”, aponta o produtor e professor do curso de Produção Musical da PUCRS, Ticiano Paludo. “O princípio é o da quantidade com custo baixo. Daí eu me pergunto: quem irá pagar R$ 60 por mês para ouvir música?”
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Leia a matéria completaA ideia de que o Tidal trará mais dividendos para os artistas que os outros serviços também é duvidosa. Para Arthur Fitzgibbon, country manager da plataforma de distribuição digital ONERpm, os artistas receberão os mesmos repasses vindos do Deezer e do Spotify.
“É exatamente o mesmo modelo com ligeiras modificações”, afirma. “O que houve (e sempre haverá) é a percepção que um artista tem de valor na sua música. Um dos itens mais importantes, que tanto músicos como empresários devem se atentar, são os contratos que assinam e os intermediários nesse caminho.”
Professor do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação da Unicamp, Eduardo Paiva acredita que Jay Z e sua turma estão só defendendo os próprios interesses financeiros — feridos justamente pela digitalização da música, que socializou seu conteúdo como nunca.
“O MP3 fez a desmaterialização da música, que não ficou mais presa ao suporte. E aí as gravadoras, representadas por esses artistas, pararam de ganhar dinheiro, porque o dinheiro não vinha da música, mas da venda de papel e plástico”, pontua.
O rapper Jay Z e sua turma não são os primeiros a se “rebelar” contra o sistema e a buscar alternativas para cortar intermediários até o ouvinte ganhando algum cascalho no caminho. Em 2007, o Radiohead deixou para os fãs decidirem quanto gostariam de pagar pelo disco In Rainbows ; ano passado, o U2 deu “de graça” seu disco para usuários de iPhone; e em janeiro deste ano, Neil Young foi além e lançou seu próprio dispositivo, o caríssimo Pono. Até Lobão, quando se dedicava exclusivamente à música, cortou intermediários e lançou discos em bancas de jornal, encartados em revis tas.
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