Que a globalização encolheu e muito o mundo que seus avós conheceram, não se discute. O maior reflexo desse contexto no mercado de trabalho pode soar novidade: ter um segundo idioma já não é mais um diferencial para quem vai cursar uma graduação. É regra, e, em pouco tempo, deve se tornar tão básico para a formação quanto a tabuada.
Diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho explica que a necessidade de dominar outro idioma vai além do acesso a uma boa colocação no mercado de trabalho. O inglês, segundo ele, é a língua da ciência, o que torna o conhecimento do idioma importante na graduação.
“[Saber inglês] é indispensável. É a língua na qual se publicam as coisas mais atuais, onde os pesquisadores se encontram. Quem não sabe terá dificuldade para acessar as publicações científicas”, diz Silva Filho.
O domínio de inglês permite, inclusive, que o estudante acesse conteúdos de universidades renomadas de graça, e sem sair de casa. Nos últimos anos, instituições como Harvard e o MIT têm disponibilizado cursos online gratuitos nesse idioma.
Já quem pretende seguir na carreira acadêmica não tem escolha: ter proficiência em um segundo idioma é obrigatório na pós-graduação. Isso porque os diplomas de mestrado e doutorado só são concedidos a quem tem bom conhecimento em uma segunda língua.
Aprender nunca é demais, mas, quando o assunto é idiomas, desbravar múltiplas fronteiras pode ser ainda melhor. Coordenadora do MBA em gestão de Recursos Humanos da Unisinos, Elenise Martins da Rocha alerta que, diante da “normalização” do inglês como pré-requisito, bons conhecimentos em um terceiro idioma têm sido mais valorizados.
Como o inglês é mais comum, saber outro idioma, como o espanhol, tornou-se um diferencial. Hoje, menos de 10% dos brasileiros têm fluência em duas línguas além do português
Mais do que se dar bem na faculdade ou conseguir um bom emprego, o aprendizado de novas línguas propicia crescimento pessoal. Coordenador do curso de Filosofia da Unisinos, Clóvis Vitor Gedrat explica que saber um outro idioma ajuda a compreender como outros povos enxergam o mundo.
“É o que chamamos de cosmovisão. Deixa o horizonte muito mais aberto, e é importante, principalmente, para quem quer ser professor. Por isso, tentamos incentivar os alunos a buscarem ler os autores em seu idioma original. Traz um ganho muito grande”, afirma Clóvis.
Como “falam” as graduações
Confira as línguas estrangeiras que estão mais alinhadas à rotina dos cursos superiores e que aparecem com frequência na bibliografia técnica:
Desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o programa Idiomas sem Fronteiras (IsF) tem como principal objetivo incentivar o aprendizado de línguas gratuitamente em estudantes de universidades federais do Brasil. Atualmente, o IsF disponibiliza o ensino das línguas inglesa e francesa. Mais em no site do IsF.
Vinculado à UFRGS, o Nele oferece cursos de alemão, espanhol, francês, grego clássico, inglês, italiano, japonês, latim, português (leitura e produção textual) e russo. Para participar, é preciso ter, no mínimo, 17 anos, e inscrever-se no site. Após as inscrições, o candidato deve aguardar o sorteio de vagas feito pelo sistema da UFRGS. Um aluno pode concorrer a vagas e cursar até dois idiomas. O valor do semestre para 52 horas/aula é de R$ 395. Informações no site da UFRGS.
O Duolingo é um serviço gratuito de ensino de inglês, espanhol, francês e alemão. O aluno aprende sem custos e ainda ajuda quem precisa traduzir sites na internet. Funciona da seguinte forma: os alunos ajudam a traduzir textos enviados ao site, e quando o material é concluído, o dono da versão original paga pelo trabalho. É com essa verba que o site se mantém.
O Learn English é um site da organização educacional e sem fins lucrativos British Council, voltado exclusivamente para o ensino gratuito da língua inglesa. Nele, é possível aprender o idioma por meio de jogos e histórias, além dos exercícios de áudio e gramática. O site também oferece materiais úteis para quem deseja se preparar para os testes de proeficiência do IELTS (International English Language Testing System).
O Busuu é uma comunidade online na qual é possível escolher entre dezenas de línguas, em diferentes níveis de conhecimento. O ensino se dá com a ajuda de nativos dos países onde se fala o idioma, e o site diponibiliza exercícios de gramática. As atividades online usam bastante conteúdo audiovisual, como jogos, desafios e recompensas. O aluno pode ter uma conta grátis ou premium (paga) – que oferece uma quantidade maior de material.
A BBC tem um site voltado ao ensino de línguas gratuitamente. São cerca de 40 idiomas, com lições e exercícios online. Para cursar, é preciso dominar o inglês.
É fundamental em todas as áreas e cada vez mais encarado como ferramenta básica, e não diferencial. Nas áreas da saúde e de negócios, é essencial ter bom conhecimento do idioma ainda na graduação. Não importa a graduação, tenha o inglês como prioridade.
A língua de acordo com cada área
Alemão
Conceitos de autores alemães são referência, principalmente na filosofia moderna.
Latim
Quem tem interesse na área da filosofia medieval vai deparar com o idioma.
Grego
Quem entra no curso de Filosofia não só vai ter a impressão, como a certeza, de que os professores estão falando grego. Isso porque a literatura original da área é baseada na língua grega. Não é preciso ser fluente, é claro. Mas aprender grego, segundo Clóvis Vitor Gedrat, coordenador do curso de Filosofia da Unisinos, ajuda o aluno a compreender os conceitos em sua essência, saber como foram construídos.“Quando as palavras são traduzidas, elas perdem um pouco do seu peso”, justifica.
Italiano
O italiano é muito importante para quem tem interesse pela área do Direito Penal e de Processo Civil, segundo o coordenador do núcleo de avaliação do curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Alemão
A doutrina alemã é bastante trabalhada, sobretudo, na área acadêmica.
Francês
Na área do Direito Público, há muita bibliografia nesse idioma. Bom conhecimento da língua francesa também é importante para quem pretende seguir a carreira diplomática.
Latim
Não é essencial, mas ajuda na formação. Isso porque o pensamento jurídico clássico veio do direito romano, e muitos termos em latim ainda são usados. Estudar latim ajuda a compreender a construção desse pensamento, segundo Rodrigo Valim de Oliveira, coordenador do núcleo de avaliação do curso de Direito da UFRGS.
Mandarim
O mundo dos negócios ainda se comunica em inglês, mas o crescimento da economia chinesa no cenário internacional indica que o mandarim tende a ser um diferencial. “A China é um gigante no mundo econômico, e os negócios com esse país já são significativos. Nos negócios, os chineses também se comunicam em inglês. Mas já se sabe que o conhecimento de mandarim facilita as negociações”, diz Yeda Swirski De Souza, decana da escola de Gestão e Negócios da Unisinos.
Espanhol
Cursos da área de Humanas, como Ciências Sociais, Filosofia e História trabalham muito com autores latinos, inclusive, na bibliografia básica. Com o inglês e o francês, o idioma é fundamental para quem pretende ingressar na diplomacia.
Alemão
Há normas importantes nesse idioma, com textos que nem sempre são traduzidos para o português. É importante principalmente nas engenharias mecânica, de materiais, e de controle e automação.
Francês
No caso da UFRGS em especial há boas oportunidades de intercâmbio com a França para os estudantes das engenharias.
Espanhol
Há possibilidades de interação e intercâmbio com universidades latinas nessa área.
Mandarim
Com o crescimento da economia chinesa e o estreitamento das relações brasileiras com o Brics, o mandarim pode abrir chances de intercâmbio.
Espanhol
Apesar de o inglês imperar nas bibliografias, o espanhol ajuda nos estágios mais avançados dos cursos. “Tem muitas informações latinas publicadas em revistas médicas. Então, ter pelo menos a leitura em dia nesse idioma colabora bastante”, avalia Alberto Maineiri, coordenador da comissão de graduação do curso de Medicina da UFRGS.
Espanhol
A proximidade com os países da América Latina faz com que muito da bibliografia utilizada nos cursos de comunicação venha de países em que o espanhol é predominante. “Hoje, os alunos costumam saber melhor o inglês do que o espanhol, e reparamos que há um estranhamento maior na hora de compreender os textos nesse idioma. Mas quem vislumbra uma carreira acadêmica vai deparar muito com ele”, adianta Maria Berenice da Costa Machado, coordenadora da comissão em graduação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da UFRGS.
Francês
A literatura francesa é uma das escolas mais utilizadas durante a graduação.
Francês
Como toda base da gastronomia é francesa, o idioma é usado como se fosse português, indica a coordenadora do curso de Gastronomia da Unisinos, Dagmar Sordi. “Há muitos cortes e preparos que são em francês, por isso é importante aprender a falar corretamente. Se o aluno se interessa pelo idioma, tem um upgrade na aprendizagem.”
Italiano
Muitos textos importantes nessas áreas, em sua versão original, estão publicados nesse idioma. Além disso, a Itália é referência quando o assunto é moda, e cada vez mais destacada pelo design, que cresce no país desde o século passado.
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