Aplaudido de pé durante minutos como se costumava fazer com os tenores nas grandes óperas, o sociólogo José Miguel Wisnik encerrou a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) com uma conferência emocionante sobre Mário de Andrade, o homenageado desta edição.
O professor de literatura brasileira da USP, músico e ensaísta falou para uma plateia que lotou a Tenda dos Autores sobre aspectos da personalidade de Mário para explicar a formação do Brasil.
O fato de o autor ser mestiço serviu para expor um grande tabu presente na base da sociedade brasileira, a violência varrida para baixo do tapete na mistura de classes.
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Leia a matéria completaCom base na extensa correspondência entre Mário de Andrade e o poeta Manuel Bandeira, Wisnik identificou em Mário uma contradição permanente: um sujeito nascido na pequena burguesia, aristocratizada pela cultura e pela educação, mas com identificação plena com o operário.
Da experiência modernista, Wisnik extraiu que Mário de Andrade tentou organizar um acordo de classes que faria o Brasil crescer como nação justamente por aspectos que podem ser encarados como mazelas.
“Seria aquilo que nenhum partido político tem assumido com vontade política, que seria tratar a educação e cultura como [se fosse] para todos. Esse é o projeto subjacente que faria o Brasil renascer de si mesmo”, afirmou Wisnik.
“Essa é a crença de alguém que acreditava que somos um povo criador, um povo que gosta de jogar, brincar, mas que seria capaz de proezas civilizacionais incríveis.”
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Leia a matéria completaNo fim, ele lembrou que a atuação pública de Mário para o país era baseada em “arte e educação para todos” e criticou duramente a falta de um projeto parecido no Brasil atual. “Hoje preferimos jogar a juventude pobre e mestiça no esgoto das prisões”. Aplaudido de pé.
Depois, Wisnik esperou a plateia se sentar para cantar, comovido, o poema “Garoa do Meu São Paulo”, do próprio Mário de Andrade, homenageado da Flip 2015. A primeira estrofe: “Garoa do meu São Paulo/ Timbre triste de martírios/ Um negro vem vindo, é branco/ Só bem perto fica negro/ Passa e torna a ficar branco”. Terminou com voz embargada o último verso: “Garoa sai dos meus olhos”. Bravo. Bravíssimo.
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