Desde 2000, quando surgiu com o soco “Angu de Sangue”, Marcelino Freire capitaneia por um terreno muito explorado por autores contemporâneos: o exílio urbano e os extensos espaços de exclusão – pornográficos, segundo um dos contos de “Amar É Crime”, quinto livro do pernambucano radicado em São Paulo. Contudo, o escritor avança mais do que a média na leitura de nosso espírito do tempo. Uma das marcas de sua obra é a intensidade.
O estilo, repleto de elementos da oralidade, busca um Brasil da metrópole, do ruído, visceral, contraditório, sem fugir de aspectos ideológicos. Marcelino incomoda, abusa e, em certos momentos, acerta na mosca, como em “União Civil”. Aqui, o narrador observa dois homens empurrando um carrinho de bebê. A voz predominante parte, então, para um longo estudo sobre a própria afetividade, entre gastronomia e memórias – o ritmo é perfeito. “A gente amadurece e os assuntos ganham banha. Torresmo. Peso. Razão.”
Livro
Marcelino Freire
Record, 160 pp.,
R$ 30. Contos.
Porém, em alguns momentos essa mesma pegada alucinante desanda, principalmente quando o autor apela para o que podemos chamar de a tara da pontuação. Em Acompanhante: “O pobrezinho. Mas veja. Não é nada muito sério. Ele só se sente sozinho. Deite-se com ele. Minha filha. Não há perigo. O. Velho. Só. Precisa. De. Um. Pouco. De. Carinho.”
“Amar É Crime” foi lançado em 2010 numa pequena edição do coletivo artístico Edith – Marcelino é um dos idealizadores do projeto. Agora pela Record, o título conta com a adição de mais cinco contos e um projeto gráfico mais apurado, o que não impediu uma outra barbeiragem ortográfica.
Estamos diante de um desses autores que, se não acerta em todos os golpes, sempre vence tranquilamente por pontos.
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