“Os homens racionais? Os homens inspirados pelo espírito? ... Não, isso não é possível ”, riem os dois macacos tripulantes de uma nave que acham uma mensagem de socorro, supostamente escrita por um humano, dentro de uma garrafa que vaga pelo espaço no ano de 2.500 d.C.
Os símios acham graça, pois sabem que da primitiva raça dos homens não se pode esperar nada além da estupidez, por isso mesmo é justo escravizá-los.
Macacos me mordam
De 1968 a 2014, os oito filmes da franquia “Planeta dos Macacos” faturaram mais de US$1,6 bilhão
Leia a matéria completaEsse é o desfecho do romance “La Planète Des Singes”, do escritor francês Pierre Boulle, lançado em 1963 e que deu origem a uma das mais populares e bem-sucedidas franquias do cinema e da televisão: “O Planeta dos Macacos”. Corte rápido para 1975.
Aos 10 anos, o menino catarinense Saulo Adami assistiu na tevê ao filme “O Planeta dos Macacos” (1968), protagonizado por Charlton Heston.
A história do mundo dominado por macacos em que os humanos são escravizados fascinou tanto Saulo que daquele dia até hoje ele se dedicou a pesquisar obsessivamente os pormenores e colecionar tudo o que era possível em relação à série.
Quarenta anos de estudos o transformaram, talvez, no maior especialista na saga dos macacos em todo o mundo.
O trabalho está reunido no livro “Homem Não Entende Nada”, publicado pela editora Mondo Estronho.
Em mais de 600 páginas e com 200 fotos, o livro cobre a franquia desde sua origem literária, passando pelos filmes, as séries e as versões em quadrinhos. E mais todas as referências que a cultura pop fez aos macacos ao longo da história.
Saulo Adami. Cinema Estronho,
612 pp., R$ 79.
Há entrevistas exclusivas com atores e técnicos, histórias da criação dos figurinos da cidade cenográfica e da aplicação das maquiagens.
Saulo inclusive se submeteu a uma sessão em 1999, na Califórnia, com um dos maquiadores mais experientes dos macacos. O processo demorou três dias entre a criação do molde da máscara e o uso da indumentária completa.
Macacomania
O sucesso dos filmes no cinema e da série na tevê brasileira transformaram o mundo macaco em fenômeno no Brasil. Histórias em quadrinhos, revistas e produtos de merchandising foram lançados. O sucesso motivou a Rede Globo a criar o programa humorístico O Planeta dos Homens no qual o humorista Orival Pessini interpretou os macacos Charles, Dionísio e Socrates que dizia o bordão: ”Não precisa explicar. Eu só queria entender...”. Também em 1976, J.B Tanko dirigiu o longa O trapalhão no Planeta dos Macacos, paródia do quarteto trapalhão aos filmes da série. Charles, Dionísio e Socrates que dizia o bordão: ”Não precisa explicar. Eu só queria entender...”. Também em 1976, J.B Tanko dirigiu o longa O trapalhão no Planeta dos Macacos, paródia do quarteto trapalhão aos filmes da série.
Penteando macacos
Em seu apartamento no bairro do Bigorrilho, em Curitiba, Adami explica as razões de sua atração pela saga dos macacos falantes. “Fascina porque nos mostra a sociedade do contrário. Nos faz pensar em como vemos o mundo e os outros e, por mais pessimista que a mensagem possa ser, ela é passada de uma forma muito divertida”, diz.
Em sua casa em Curitiba, Saulo guarda algumas das relíquias que garimpou nessas quatro décadas “penteando” macacos.
A maior parte da memorabilia, porém, está em sua casa de campo na região de Itajaí, em Santa Catarina. Lá, o escritor pretende criar a “Casa do Macaco”, uma construção que recriará a arquitetura sci-fi da cidade cenográfica dos estúdios da Fox em que deseja guardar os cerca de 1,5 mil itens de sua coleção.
“A ideia é fazer a casa para acomodar e preservar as coisas e receber a visita de alguém interessado em conhecer”, explica Adami.
Interessado por minúcias como todos os instrumentos usados em uma gravação da trilha sonora ou detalhes de continuidade dos filmes e de episódios da série, Saulo não se considera obcecado e sim um estudioso.
“Não vou precisar ser internado. Não transformei minha vida ou de minha família. Isso para mim é matéria-prima para estudo. Sou apenas um sujeito que estuda um tema a fundo”, diz o pesquisador.
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