Miles Davis (1926-1991) completaria 90 anos nesta quinta-feira, 26 de maio. Há alguns meses, tributos à altura do legado do trompetista e compositor americano vêm pintando nos Estados Unidos: já estreou por lá o filme “Miles Ahead”, dirigido e estrelado por Don Cheadle, que saiu junto com uma coletânea com destaques da obra do músico. Amanhã, será lançado o álbum “Everything’s Beautiful”, com releituras de músicas de Miles feitas pelo premiado pianista e produtor Robert Glasper, junto com convidados como Erykah Badu, Phonte e Stevie Wonder. “Se ele estivesse aqui, ele iria amar Kendrick Lamar. Iria amar André 3000. Iria amar Erykah”, especulou Glasper , em entrevista sobre o projeto ao “The New York Times”.
Livremente inspirado na vida do músico, “Miles Ahead”, não tem data de estreia no Brasil
Um dos eventos que entraram para a lista de comemorações dos 90 anos de Miles Davis foi o lançamento do filme “Miles Ahead”, inspirado na vida do músico
Leia a matéria completaDiversos outros shows em homenagem ao trompetista também vêm sendo feitos em várias partes do país – incluindo um apresentado recentemente pelo cultuado baixista Ron Carter, que integrou a banda de Miles, em frente ao memorial do músico no cemitério de Woodlawn, em Nova York (onde o trompetista está enterrado ao lado de outros gênios como Duke Ellington).
Dono de uma obra única, Davis é cultuado pelo pioneirismo e extensa influência. Desde o início da carreira – quando integrou a banda de Charlie Parker no centro da revolução do bebop em Nova York, em 1945 –, ele viajou sem parar entre os estilos que transformavam o jazz, ajudando a formatar cada subgênero que tocava – do bebop ao fusion, passando pelo cool jazz (que explorou ao lado do o pianista e arranjador Gil Evans) e o hardbop. Seu álbum mais famoso, “Kind of Blue” (1959), é frequentemente lembrado como a mais importante gravação de jazz de todos os tempos.
“Miles deu vida ao jazz por mais de um século”, diz o pianista curitibano Jefferson Sabbag. “Nos anos 50, quando chegou a vanguarda, o jazz começou a encolher e ir para um lado cerebral, quase virando música erudita e para pequenos públicos. Miles levou o jazz para as grandes plateias”, diz.
Quando ele se foi, o mundo perdeu. Ganhou outros grandes trompetistas, como Wallace Roney. Mas, iguais ao Miles, não.
Atento a outros movimentos da música popular de sua época, ele também influenciou artistas além do jazz, lembra o músico. “Graças ao Miles, todas as bandas do mundo hoje têm elementos de jazz – desde as bandas sertanejas e de pagode ao metal”, defende.
Trompete
Além do legado estilístico, o músico criou um som particular, que influenciou gerações de trompetistas, lembra o trombonista Raul de Souza. “Ele foi um monstro. Desenvolveu um sistema técnico e sonoro que envolveu um mundo de trompetistas. Todo mundo queria imitar, botar surdina [no trompete] para parecer com ele. Mas o som não vinha da surdina, vinha do Miles”, conta.
O paranaense Saul Trumpet, que começou a tocar há quase 60 anos, foi um deles. “Ele está em toda a minha vida musical. Comecei tentando imitar o som dele”, diz.
“Foi um fantástico músico, com composições modernas para a época”, diz Raul de Souza. “Quando ele se foi, o mundo perdeu. Ganhou outros grandes trompetistas, mas, iguais ao Miles, não.”
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