No dia 12, antes do fim da votação no Senado sobre o impeachment, um grupo de sete ativistas ligados à cultura rumou até a sede do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) em Curitiba, pendurou faixas e cartazes contra o governo Temer e ficou em vigília até a manhã seguinte.
Quando o funcionário da segurança abriu o portão na sexta-feira (13), o grupo tomou o pátio do terreno na primeira das treze ocupações de resistência à posse do governo Temer, presidente desde o último dia 12, após processo de impeachment de Dilma Rousseff, e ao anúncio da extinção do Ministério da Cultura (MinC) em prédios federais no país.
“Queríamos que o novo governo não amanhecesse dando boas novas e sim tendo que resolver os pepinos da resistência ao golpe que ele deu”, explica Guilherme Naldin, produtor audiovisual e um dos pioneiros da ocupação, chamada de MinC Resiste.
A pauta inicial – contra a extinção da pasta da cultura – logo mudou para a resistência ao governo Temer. O produtor audiovisual Nelson Settanni explica que eventual recuo do novo governo com a recriação do MinC e a nomeação de um nome palatável aos movimentos sociais não acabaria com a ocupação.
Perfil
Mulher, na faixa dos 25 anos, militante de causas da esquerda e de movimentos sociais e estudante – ou com atuação – na área da criação ou produção cultural. Aparentemente, este parece ser o padrão predominante dos participantes da ocupação de artistas na sede do Iphan em Curitiba. A professora de teatro Rafa Poli se enquadra no perfil.
Moradora do bairro Capão Raso, Rafa conta que foi para casa tomar banho apenas uma vez desde que a ocupação começou. Ela ressalta, porém que é difícil definir um perfil dos ocupantes. “É um protesto plural, democrático com gente de todos os setores da cultura”, diz.
“Nossa luta passou a ser pelos direitos do povo. As medidas do governo são antipopulares em vários setores fundamentais e a cultura é só uma das áreas atingidas“, disse o ex-militante do PT que se desfiliou “depois do mensalão em 2005”.
Sem data para sair
Com a mudança de pauta do protesto, a ocupação tem tempo indefinido. A expectativa do movimento é que possa durar enquanto dure o governo Temer.
“Este tipo de atitude, um protesto pacífico e cultural, disputa a opinião do centro, de uma classe média mais progressista. É melhor do que uma manifestação de movimento social mais radical, que fecha uma rodovia”.
“Cada dia que o governo passa no poder é uma vitória deles. Cada dia nosso aqui é uma vitória nossa. Com o fim do pacto do lulopetismo, a esquerda está se reorganizando. A direita já o fez. A tendência é que esta disputa se estenda pela próxima década”, afirma Naldin, que é filiado ao PSOL.
Este tipo de atitude, um protesto pacífico e cultural, disputa a opinião do centro, de uma classe média mais progressista. É melhor do que uma manifestação de movimento social mais radical, que fecha uma rodovia.
Para ele, este tipo de protesto inspirado em “ação direta” seria uma das marcas desta nova esquerda. “Este tipo de atitude, um protesto pacífico e cultural, disputa a opinião do centro, de uma classe média mais progressista. É melhor do que uma manifestação de movimento social mais radical, que fecha uma rodovia”.
Rodízio
À rotina da ocupação curitibana cabe bem a definição de “acampamento festivo” que o sociólogo James M. Jasper usou para definir o mais célebre destes movimentos – o Occupy Wall Street – em seu livro “Protestos” (Zahar, 2016). Com programação permanente de apresentações culturais e sem lideranças formais, a ocupação se diz suprapartidária e se organiza principalmente por meio de redes sociais.
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Leia a matéria completaSettani conta que um esquema de escalas em rodízio é programado de acordo com o tempo e compromissos de cada um. As decisões, do jantar do dia a um ato político na rua, são tomadas em longas assembleias noturnas com muitos oradores.
Na noite de quarta-feira (18), cerca de 35 pessoas iriam passar a noite no acampamento em 18 barracas colocadas no jardim da sede do Iphan.
Na anterior, o restaurante Farnel, no Largo da Ordem, bancou o jantar: um risoto de pinhão. Nos outros dias, a base foram sopas e sanduíches. Álcool e drogas são proibidos. Vizinhos como a triz Claudete Pereira Jorge cedem as casas para os manifestantes tomarem banho.
Da rua, muitos s carros que passam se manifestam contra e a favor ao protesto. “Vão trabalhar, vagabundos”, disse um passante. Minutos depois, de outro carro se ouviu um “Fora Temer”. “É o dia inteiro assim”, diz o iluminador de teatro Luiz Nobre.
Da rua, muitos s carros que passam se manifestam contra e a favor ao protesto. “Vão trabalhar, vagabundos”, disse um passante. Minutos depois, de outro carro se ouviu um “Fora Temer”. “É o dia inteiro assim”, diz Luiz Nobre, iluminador de teatro e o responsável do dia pela cozinha do acampamento. “Eu trabalho bastante. As pessoas não sabem que esta nossa luta é por elas também”.
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