A cineasta Sharmeen Obaid-Chinoy ganhou no último domingo o primeiro Oscar do cinema paquistanês com um documentário em que denuncia os ataques com ácido, um drama comum em seu país.
As autoridades e a imprensa paquistanesas celebraram ontem, com alvoroço, um triunfo insólito para o país islâmico, acostumado a ser associado no imaginário coletivo com o fundamentalismo e o terrorismo.
"Muito obrigado a todos pelo amor e apoio. Estou muito agradecida a Deus por me dar esta oportunidade", disse a codiretora do documentário Saving Face a seus seguidores do microblog Twitter.
O primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gillani, felicitou a artista por meio de um comunicado e anunciou que seu governo lhe concederá um prêmio civil.
Com 52 minutos de duração, Saving Face, codirigido pelo norte-americano Daniel Junge, levou o Oscar de melhor documentário de curta-metragem ao retratar a visita de um médico britânico-paquistanês ao país para tratar as adolescentes e mulheres vítimas dos ataques com ácidos.
Agressões
A cada ano são registrados no Paquistão cerca de 200 ataques com ácido 75% contra mulheres , segundo a ONG Fundação das Sobreviventes do Ácido (ASF). "O curta demonstra que é possível fazer algo contra isso. É sobre as mulheres que estão tentando lutar e sobre os homens que tentaram ajudá-las", resumiu Valerie Khan, dirigente da ASF.
Nos últimos anos, organizações de defesa dos direitos humanos vêm tentando um acordo com as autoridades para dar início a iniciativas legais contra as agressões com ácido e a favor da punição dos autores desses crimes.
Os motivos desta atrocidade podem ser a recusa da mulher a um casamento, ajustes de contas, chantagens entre famílias, dotes de uma quantia insuficiente, ou a irritação de um pai por ter mais meninas em um país onde o homem promete mais recursos econômicos.
As agressões acontecem porque no Paquistão não existe nenhum tipo de controle sobre a venda de ácidos como o sulfúrico e o nítrico, que podem ser adquiridos sem necessidade de identificação. As vítimas acabam tendo de se submeter a várias operações plásticas para a reconstrução de seus rostos.
Uma emocionada Obaid-Chinoy não teve dúvidas a quem dedicar a estatueta quando subiu ao palco da premiação: "A todas as mulheres no Paquistão que estão trabalhando a favor da mudança. Não abandonem seus sonhos: isto é para vocês".
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