Esqueça "Shrek". A única animação que concorre à Palma de Ouro, prêmio máximo do festival de Cannes, é "Persépolis", da quadrinista e agora cineasta iraniana Marjane Satrapi.
Autobiográfica, a história é baseada na graphic novel homônima da autora, que foi recentemente publicada no Brasil pela Companhia das Letras.
Nascida no início dos anos 70, em uma família relativamente progressista, a pequena Marjane assistiu ao avanço Revolução Islâmica em seu país comandada pelo aiatolá Khomeini. Os modos um tanto ocidentalizados com que foi criada passaram então a ser considerados crimes contra a pátria. Ouvir um inocente Iron Maden ou um cassete do Abba dava cadeia. Deixar uma mecha de cabelo cair sobre a testa, punição na certa.
As guerras e a briga pela exploração energética do país também têm destaque, mas a maior batalha da garotinha Marjane é contra Alá, deus que ela nem sempre entende. Por que ele permite que seu tio revolucionário seja executado se tudo o que ele quer é igualdade de direitos para o proletariado?
Marjane, à certa altura, manda seu deus passear. Mas quem vai embora é ela. Na adolescência, depois de quase ir presa por dizer à professora da escola que o "hijab" (o véu sagrado) não é garantia de respeito nenhum e que milhares de inocentes foram mortos durante uma guerra manipulada pelos ingleses, ela vai morar em Viena. É lá que, sem falar uma palavra de alemão, toma contato com o movimento punk, descobre o amor e, claro, leva o primeiro fora de sua vida. Contar mais é covardia. Contar menos é falar pouco desta tragicomédia iraniana ainda sem previsão de estréia no Brasil.
Estréia de Marjane e Vincen Paronnaud que assina a co-direção - no cinema, "Persépolis" também concorre à Câmera de Ouro de Cannes, concedida à revelação do ano. Na animação, produzida com a técnica tradicional 2D, o preto-e-branco que predomina nas páginas da versão em quadrinhos ganha cores.
"Optamos por escolher contar os fatos do passado em tons p&b. E os do presente em cores. Isso dá o distanciamento necessário para que o leitor entenda o que está acontecendo", explica Paronnaud.
As vozes de Marjane e sua mãe no longa são feitas pelas também mãe e filha Catherine Deneuve e Chiara Mastroiani.
"Apesar de essa história não ter nada a ver com a minha realidade, me indentifiquei e me apaixonei pelo projeto. 'Persépolis' fala da vida de muitas garotas no mundo, não só das iranianas. E é uma historia belíssima e comovente", disse Catherine em entrevista coletiva em Cannes.
Os vencedores do festival só serão conhecidos no domingo (27), e é pouco provável que Marjane receba a Palma de Ouro. Mas só o fato de levar ao templo do glamour, que é a Croisette, o que passou uma adolescente iraniana nos anos 70 e 80 já é digno de todas as palmas.
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