Ronda da Noite é um romance cartográfico. Ler o livro é de certa forma caminhar com Patrick Modiano pela Paris assaltada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
"Eu tinha a princípio uma grande pureza de alma. Isso se perde pelo caminho. Praça de lÉtoile. Nove horas da noite. As luzes dos postes da Champs-Elysées brilhavam como nos velhos tempos. Não cumpriram suas promessas. Esta avenida, que parece de longe tão majestosa, é um dos lugares mais abjetos de Paris. Claridge, Fouquets, Hungaria, Lido, Embassy, Butterfly..."
Quem fala é um homem a serviço dos alemães e também da Resistência. Esse agente duplo oscila de um lado para o outro movido por dinheiro e por um desejo banal: o de ser deixado em paz e isso é tudo que ele não vai conseguir.
Embora seja curto, com pouco mais de cem páginas, o livro parece bem maior porque diz muito. A história não é imediatamente acessível ao leitor. As lacunas são tantas que você demora até reunir as informações a respeito do que se passa (embora as orelhas deem todo o contexto de que precisa).
Ele não cita a Gestapo, não menciona os nazistas nem os alemães. Mal fala de guerra mas menciona um "desastre acontecido nos dias precedentes".
No começo, há um narrador em terceira pessoa, observando um grupo excêntrico de escroques. Aos poucos, a situação vai sendo desvelada e, de uma hora para outra, o narrador assume a primeira pessoa e se coloca em cena.
As poucas informações, as cenas barulhentas em locais fechados com vários falando ao mesmo tempo, mais o interesse do autor pela geografia parisiense impõem um efeito de desnorteamento. Você sai de uma algazarra para caminhar pela cidade deserta, sem saber o que se passa ou para onde vai.
Assim como o agente duplo, você também é lançado de um lado para outro. "Nesse jogo, a gente acaba perdendo a si próprio", diz o protagonista.
O posfácio do livro explica que Ronda da Noite faz parte de uma "Trilogia da Ocupação" e que os outros dois títulos, todos independentes entre si, não foram traduzidos no Brasil. O texto é uma espécie de legenda que contextualiza a obra.
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