É sempre impressionante, nas apresentações de Criolo, o quanto suas músicas crescem ao vivo, reforçadas pelo coro de um público reverente e pela figura algo messiânica do artista no palco. Seus versos mais contundentes, impulsionados pela enorme potência sonora da banda e por um artista quase em transe, viram petardos quando falam coisas que as pessoas gostariam de gritar.
E havia tantas delas no ar na noite do último sábado (2), quando o rapper se apresentou para um Guairão lotado, que a voz do público chegou a encobrir o som que vinha do palco.
Criolo voltou à capital paranaense para apresentar alguns dos sucessos do famoso Nó Na Orelha (2011) e, principalmente, as canções de seu trabalho mais recente, Convoque Seu Buda (2014). Trata-se de um álbum de canções fortemente questionadoras, com versos cirúrgicos sobre alguns dos temas mais sensíveis em debate no país, que parecem ter ressoado com ainda mais força entre uma plateia sensibilizada pela repressão do governo do estado ao protesto dos professores na última quarta-feira (29).
O artista nem precisaria ter sido específico, mas tocou no assunto lá pela quarta música do show. Criolo pediu respeito e desejou amor e “axé de energia positiva” a todos os professores. A resposta foi uma manifestação ruidosa que acompanhou o cantor a cada vez que ele falou sobre o assunto, mas também quando ele cantou sobre a desigualdade, sobre tensão social; quando sua música disparou contra a hipocrisia de todo o espectro ideológico (“Esquiva da Esgrima”), quando ironizou o glamour e o consumismo (“Cartão de Visita”) ou quando defendeu a resistência e a ocupação (“Convoque Seu Buda”).
Sempre menos assertivo em seus discursos que em suas canções, Criolo encerrou o show se limitando a pedir ajuda das forças da natureza para colocar os governantes no rumo certo – o que talvez tenha frustrado quem esperava por uma fala mais enfática sobre o episódio da semana passada. Mas a catarse coletiva, conforme mostram os registros do coro pela saída do governador ao fim do show, teve sua noite no Guairão.
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