Volta e meia surge uma adaptação de Shakespeare para o cinema com grandes astros, como é o “Macbeth”, de Justin Kurzel, em cartaz na cidade, com Marion Cotillard e Michael Fassbender no papel do casal sanguinário.
Diferentemente de outras produções grandes como “Romeu + Julieta” (1996), com Leonardo DiCaprio, que funcionam de forma autônoma, este “Macbeth” trabalha com um lirismo de filme-arte que poderá chocar quem não conheça o enredo de antemão.
Shakespeare mania
Veja uma lista de adaptações interessantes de peças do bardo inglês para o cinema
Leia a matéria completaA peça em si é apoiada em profecias e sutilezas que exigem uma imersão no drama interior dos personagens, atormentados primeiro pela fantasia de grandeza, depois, pelos atos criminosos realizados para “apressar o destino”.
A opção do filme foi por situar a trama na Escócia medieval, mais ou menos na época sugerida pelo bardo em sua peça. Além disso, os diálogos reproduzem o texto escrito por Shakespeare, o que amplifica o resultado lírico.
Mas nem sempre as adaptações se atêm às palavras e cronologias do autor – e isso não é nenhum problema.
“Eu considero uma boa adaptação um filme que realmente recrie a peça, e não tente ser fiel”, opina a estudiosa de Shakespeare da UFMG Thaïs Flores Nogueira Diniz. Como exemplo, ela cita “Trono Manchado de Sangue”, em que Akira Kurosawa transporta ao Japão dos samurais a trama de “Macbeth”, falada em japonês e criando uma atmosfera hipnotizante.
Um ótimo exemplo de recriação é a série da BBC para a televisão “Shakespeare Retold” (“Shakespeare Recontado”), que apresentou em 2005 versões para três comédias do bardo, transpostas aos dias de hoje, além de um “Macbeth” impressionante, em que o protagonista e sua mulher são chef e hostess de um restaurante – e as três bruxas, que predizem o destino do casal, inebriantes lixeiros.
BBC
“Shakespeare Retold”, uma série produzida pela BBC com ambientação contemporânea, está no YouTube. Veja o “Macbeth” com James McAvoy e “Much Ado About Nothing”, nos bastidores de um jornal.
Surgem cada vez mais filmes que abordam o próprio processo de adaptação, visto ser essa uma área que tem atraído interesse crescente.
A professora da UFPR Célia Arns de Miranda cita “Shakespeare Apaixonado” (1998), com Joseph Fiennes como o jovem bardo. Passado nos bastidores do teatro, o longa permite ao espectador imaginar como seriam as montagens no século 16.
Outro apaixonado por Shakespeare, Al Pacino, fala sobre a relevância do autor nos dias atuais: “À Procura de Ricardo III” (1996). “São filmes que evidenciam como tudo é recriação”, diz Célia.
A busca por fidelidade é uma ilusão.