Se há uma imagem capaz de resumir a MOP3 e a COP8, essa é a da Via Campesina burlando a segurança da Polícia Federal para fazer um cortejo silencioso em plena sala de conferências. Velas, lenços verdes no pescoço e os cartazes chamando as sementes estéreis, a terminator, de homicida, deixaram claro que não seria uma conversa de comadres. Os delegados tinham acabado de sair da estressante discussão sobre a rotulagem de transgênicos e, num estalar de dedos, se deparavam com outro OGM com nome de filme do Schwarzenegger. Era sinal de que os transgênicos permaneceriam em pauta e seriam a primeira palavra a vir à mente quando se falasse das conferências de Curitiba.
Dito e feito. As decisões do encontro não traíram a história. Os dias de fúria para declarar moratória à terminator resultaram a favor dos manifestantes e com sabor de derrota para os cientistas. OK, o que mais se ouve é que "moratória" não é bem o termo, pesado demais para um encontro acima de tudo diplomático. Mas, na prática, onde está escrito "restrição de uso", leia-se "moratória". As sementes transgênicas que não se reproduzem nem por milagre só podem ser estudadas em laboratórios, como objeto de estudo, um vício secreto. Nada de pesquisa de campo, quanto mais de comercialização.
Apesar das aparentes derrotas para a comunidade científica, que começou a COP/MOP dizendo que trocar "pode conter" pelo "contém" equivalia a desconfiar da excelência do trabalho realizado pelo Conselho de Bissegurança, a batida do martelo, na tarde de ontem, soou melhor do que se previa inicialmente. A pesquisadora Luciana Di Ciero, da Esalq/USP, festeja. "Nós nos mobilizamos, apresentamos nosso ponto de vista. Nosso medo era que a pesquisa científica saísse das conferências com impedimentos, e isso não aconteceu. Os cientistas foram ouvidos. Muitos nos atacaram sem embasamento técnico, esquecendo de que também somos ambientalistas. Mas os dois lados se pronunciaram. Foi ótimo."