“Regra do Jogo” muda a forma de se fazer novela

A movimentação nos bastidores de “A Regra do Jogo” é diferente da que se costuma ver em gravações de novelas. E não só porque a trama de João Emanuel Carneiro foi antecipada em dois meses, vai estrear na TV Globo no próximo dia 31, no lugar de “Babilônia”, e a pressa é grande.

O que salta aos olhos são as mudanças radicais no modo de se fazer novela, efeito de dois anos de trabalho de um grupo comandado pela diretora de núcleo Amora Mautner. Dessa força-tarefa, resultou a criação do que foi batizado de “caixa cênica”. Para começar, no estúdio, que é circular, não há boca de cena. Atores e equipe transitam por todos os lugares.

Oito câmeras – duas delas robôs – estão espalhadas pelo cenário. Algumas ficam invisíveis, escondidas atrás de um espelho ou dentro de um armário, por exemplo. Os atores não sabem onde elas estão. Nos ensaios, são instados com entusiasmo por Amora a usar cacos e outros recursos do improviso. A gravação é em seguida, de uma só vez.

Tudo isso colabora para o que ela define como “uma estrutura que capta a energia do momento”. Do ponto de vista simbólico e também objetivamente, a emoção, a ação dramatúrgica e os atores dominam o ambiente. E isso significa uma mudança de perspectiva equivalente à diferença entre um palco italiano e uma arena. Essa ampliação do território dramático promete abrir uma nova porta na maneira de se fazer novelas.

“Para criar isso, assisti a várias edições do ‘Big Brother’ e conversei muito com o Boninho [diretor de núcleo do programa]”, afirma Amora, que diz ter contado com um pesado investimento da emissora em equipamento. “Acho que os realities tornaram o público mais crítico com o que soa falso. Aquilo é dramaturgia com verdade. Agora, a dramaturgia tem que se adiantar. Na Globo, faltam atores e diretores que não sejam viciados em cenas declamadas e marcadas. Quero desmontar isso e captar o erro, voltar a um ponto de naturalidade que se perdeu.”

A busca está diretamente relacionada ao caráter naturalista da obra de João Emanuel. No dia da reportagem, acontecia uma gravação com o núcleo da família de Feliciano Stewart (Marcos Caruso), que tem “o DNA da família Tufão”, de “Avenida Brasil” (2012).

Amora circulava pelo cenário com o texto na mão, enquanto convidava o elenco a participar. Depois de cinco ensaios consecutivos, algumas falas de momento tinham brotado, e a equipe partiu para gravar a sequência, sem cortes. O ganho não é só artístico: o tempo gasto na realização é menor do que com o uso de duas câmeras e repetições.