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Secos & Molhados- Secos & Molhados; Continetal, 1973; Fotografia: Antonio Carlos Rodrigues | Reprodução
Secos & Molhados- Secos & Molhados; Continetal, 1973; Fotografia: Antonio Carlos Rodrigues| Foto: Reprodução

A arte de um disco passa necessariamente pela capa. De associações entre músicos e ilustradores, fotógrafos ou designers resultam obras inesquecíveis que não só complementam a proposta musical da banda como também ajudam a criar uma identidade visual marcante. Como esquecer a imagem dos quatro Beatles atravessando uma faixa de pedestres em Abbey Road, ou o prisma que refrata a luz em Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, ou mesmo a criança que nada atrás de uma nota de dólar presa a um anzol em Nevermind, do Nirvana? Capas como essas se tornaram sinônimos imagéticos de seus respectivos artistas. Não é preciso dizer nada. Uma imagem vale mais do que mil palavras, afinal.

Boa parte do culto ao disco se deve às capas, e o caminho inverso também é verdadeiro: o desinteresse pelo CD, último suporte físico para a comercialização da música, ocorre também por uma falta de zelo com a embalagem. "Com o disco de vinil havia mais detalhes para serem pensados, e não só a capa. As bandas precisavam decidir qual música abriria o lado A, o lado B, as músicas que fechariam também. A capa, por ser maior, agregava mais valor ao produto, e merecia o mesmo tipo de atenção", afirma Flavio Mendes, designer e capista freelancer. Para ele, a imagem do álbum deve ser uma continuação da música.

União entre artes

O nome do artista que assina a capa pode acrescentar ainda mais valor para o músico do que seu próprio produto. O artista pop Andy Warhol, por exemplo, assinou a capa de Velvet Underground & Nico da estreante banda homônima apadrinhada por ele, e é inegável que a imagem da banana em um fundo branco deu notoriedade para o grupo.

A recíproca também é verdadeira: o trabalho de alguns capistas ganhou força graças à popularidade da banda. É o caso de Derek Riggs, criador do mascote Eddie, da banda britânica Iron Maiden. O grupo passou a adotar o personagem em todas as capas de seus álbuns – embora nem todas sejam assinadas por Riggs – e o ilustrador hoje é responsável por capas de grandes bandas de heavy metal, como Stratovarius e Zonata.

Galeria aberta

Aqui no Brasil, uma das imagens de álbum mais emblemáticas é a do disco auto-intitulado da ex-banda de Ney Matogrosso, Secos & Molhados. A foto, que mostra os integrantes da banda maquiados e com as cabeças dispostas em pratos numa mesa de banquete, foi feita pelo fotógrafo Antonio Carlos Rodrigues. "O João Apolinário [jornalista e poeta, pai do guitarrista da banda, João Ricardo] havia me pedido para dar uma força para a banda do filho dele, que estava começando. Quando soube do nome da banda, sugeri a ideia da capa, pois já havia elaborado o conceito", afirma. O trabalho de Rodrigues recebeu diversos prêmios e foi considerado por muitos jornais e revistas especializadas em música como a melhor capa de todos os tempos da música brasileira.

Também para ele, o formato do disco de vinil é responsável pela qualidade da arte. "Aquelas capas eram uma espécie de galeria aberta para se criar grandes imagens. Quando a música não era digital, a capa precisava falar muito mais sobre o conteúdo do disco. Hoje em dia a maioria das pessoas vê a capa do álbum na tela do Ipod ou no computador. Acho que mesmo se tivesse feito essa foto para um CD ela não teria tanto impacto".

O colecionador de discos curitibano Horácio De Bonis, que organizou a exposição O Rock Através de suas Capas, em 2006 nas Livrarias Curitiba, concorda: "A capa pode ser muito bem a primeira impressão que a banda passa, e o LP tem um formato interessante para a arte", e completa: "Uma razão forte pela qual as bandas estão voltando a comercializar discos de vinil, além da qualidade sonora, é justamente a capa. Com ela você tem de novo uma obra em mãos, e isso permite que as bandas voltem a explorar suas identidades gráficas".

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