O Banco Central avalia que uma melhora nas contas públicas nos próximos anos teria mais impacto sobre a confiança na economia brasileira do que sobre a inflação.
"A geração de superávits primários nos próximos anos tende a ser bem menos relevante do ponto de vista de combate à inflação se comparada à relevância que ela vai ter do ponto de vista de criação de uma percepção positiva para o cenário macroeconômico, de redução de prêmios de risco", afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo nesta terça-feira (18).
Segundo Hamilton, a instituição mantém a avaliação de que a política fiscal deve ter impacto neutro sobre a demanda no próximo ano. Ou seja, não ajuda no combate à inflação, mas também não atrapalha.
Em entrevista, o diretor foi questionado sobre a possibilidade de um superávit baixo em 2015, na hipótese de déficit em 2014, ter impacto contracionista sobre a demanda.
Hamilton disse que "não é qualquer esforço fiscal" que fará com que, nas contas do BC, o resultado mostre contração em relação ao ano corrente. Segundo ele, o modelo de cálculo da instituição para o impacto fiscal considera um intervalo de variações do resultado primário e não um número absoluto.
O diretor disse ainda que grande parte dos analistas independentes e do mercado financeiro avalia que a política fiscal será mais contida no ano que vem, o que seria positivo se fosse confirmado.
Afirmou também que não comentaria as mudanças propostas pelo governo no Orçamento de 2014 que acabam com a meta fiscal deste ano.
Câmbio
Sobre a alta recente do dólar, Hamilton afirmou que a expectativa é que a mudança na política monetária dos EUA tenha impacto sobre os mercados internacionais de moeda, inclusive sobre o Brasil.
Não se espera, no entanto, nova depreciação do real nos níveis vistos entre 2011 e 2014, período em que a moeda perdeu cerca de 40% do valor em relação ao dólar.
O BC avalia ainda que o mercado de câmbio tem estado mais "volátil" ultimamente, mas que a política de intervenções da instituição vem sendo bem sucedida. "O programa tem ajudado o mercado doméstico a se ajustar a esse cenário de transição [nos EUA]", afirmou.
PIB 2015
O BC reafirmou que espera crescimento maior do país em 2015, após a desaceleração da atividade em 2014.
Entre os fatores que devem contribuir para isso estão um mercado de trabalho com taxas de desemprego baixa e "salários crescendo bem". "São elementos que tendem a dar sustentação ao consumo das famílias", afirmou Hamilton.
O diretor disse ainda que o comércio exterior deve contribuir positivamente para o crescimento, o que não ocorre desde 2005.
Hamilton afirmou esperar ainda que o nível de confiança de empresas e famílias se recupere, na medida em que "as incertezas em relação à economia se resolverem". "Isso ajuda a antecipar um cenário para a atividade em recuperação em 2015."
Questionado sobre sua permanência no cargo no próximo ano, o diretor afirmou que ele e demais colegas de diretoria estão trabalhando normalmente. "Vamos continuar na mesma toada. Temos certamente desafios interessantes pela frente."
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