Ao contrário de outras transições políticas na Argentina, a troca de comando entre Cristina Kirchner e Mauricio Macri, em dezembro passado, não exibiu uma “explosão” econômica.
A situação foi bem diferente de quando Raul Alfonsin deixou o poder para entregá-lo nas mãos de Carlos Menem, em 1989, ou de quando Fernando De la Rua renunciou para Eduardo Duhalde assumir dias mais tarde, no fim de 2001.
Embora a “lua de mel” com o presidente novo tenha acabado, a relação de Mauricio Macri – há cinco meses no poder – com a Argentina continua boa.
Tranquila
Nos primeiros cinco meses de seu mandato, Macri mantém um nível significativo de popularidade, apesar de várias medidas amargas adotadas, e desfruta da tranquilidade de não ter de enfrentar um adversário forte.
E otimista
O governo sabe que já concluiu a “lua de mel” – os sindicatos já foram às ruas para protestar contra as demissões – e que precisa de resultados positivos dentro de alguns meses para enfrentar o próximo ano.
Em 2017
É quando haverá eleições legislativas – uma chance de Macri oferecer uma perspectiva mais otimista para a população da Argentina.
Em vez de uma explosão, o que houve na Argentina foi uma “implosão”, pela qual o governo anterior não pagou nenhum custo político e todo o “trabalho sujo” foi deixado para seu sucessor. O mesmo teria acontecido se o candidato peronista Daniel Scioli tivesse ganhado as eleições presidenciais.
A primeira batalha que Macri teve de enfrentar foi derrubar o cerco que, desde 2011, praticamente impedia cidadãos de comprar dólares com a intenção frustrada de evitar a fuga de capitais e que caracterizou todo o governo de Cristina. Da mesma forma, na última fase kirchnerista travaram-se as importações e os lucros das empresas no exterior. As consequências dessas medidas foram estagnação da economia, queda abrupta nos níveis de investimento e o fracasso no objetivo de impedir a fuga de capitais.
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Em paralelo, o atual governo produziu uma desvalorização do peso, porque o dólar estava artificialmente desvalorizado até o final de 2015 para que a inflação não se intensificasse – e a taxa de câmbio foi unificada, para tentar reanimar a atividade econômica.
Outro problema que se impôs desde o primeiro dia da administração Macri tem a ver com diplomacia. A política externa de Cristina Kirchner tinha sido pouco pragmática e levou a várias disputas comerciais e financeiras. Macri pediu a sua equipe que abrisse canais de negociação com os detentores de títulos da dívida argentina, incluindo os chamados “fundos abutre” – e, assim, obteve uma primeira queda na taxa de juros pagos por títulos públicos federais, províncias e empresas do setor privado. Em paralelo, buscou-se a melhoria das relações com os Estados Unidos e a Europa, negligenciadas durante a década anterior.
Além disso, Macri aumentou as tarifas dos serviços públicos na cidade de Buenos Aires, que pagavam muito menos do que o restante do país, em uma disputa que gerou uma enorme disparidade de preços nos últimos anos. E, enfim, começou a reduzir o grande déficit fiscal acumulado nos últimos anos.
Números
Presidente, Macri começou a normalizar estatísticas feitas por órgãos públicos, uma vez que desde 2007 o governo anterior camuflava os dados reais da inflação, da pobreza e do crescimento econômico – entre outras variáveis –, num caso sem precedentes para um país democrático.
Reerguer a economia será uma tarefa difícil
A grande aposta do governo de Mauricio Macri é alcançar uma retomada significativa nos investimentos, para reavivar a economia e reduzir a inflação.
Não vai ser fácil: a inflação, de acordo com consultores privados que medem os preços de varejo, foi de cerca de 40% nos últimos 12 meses – e o governo pretende reduzi-la em 10 pontos porcentuais antes do fim do ano. Mas qualquer decisão tomada nesse sentido, como aumentar as taxas de juro do Banco Central, provoca efeitos colaterais significativos, como a redução do crescimento econômico.
Além disso, os investimentos estão travados porque os empregadores ainda desejam conhecer as regras no médio prazo.
Neste contexto, em que cresce o temor do desemprego, os apoiadores de Cristina Kirchner constituíram-se como o núcleo duro da oposição a Macri em cada nova medida anunciada. No entanto, essa postura enfrenta dois problemas: os inúmeros processos judiciais enfrentados pela ex-presidente – de corrupção,lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito – e a atitude mais pragmática do resto do peronismo, que prefere uma coexistência pacífica com o novo presidente, enquanto busca uma nova liderança interna. (MK)
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