O Banco Central já comprou mais de US$ 20 bilhões nesta semana para segurar a cotação do dólar no Brasil, em meio às expectativas do mercado em relação à votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A intenção do BC é evitar que o dólar despenque em função do forte fluxo de empresas e investidores estrangeiros que estão mudando suas apostas e vendendo dólar. Mesmo com a forte atuação do BC, a moeda americana já caiu mais de 5% em quatro dias e fechou ontem cotada a R$ 3,4768.
A queda do dólar, segundo operadores, está sendo fortemente pautada pela expectativa de que o impeachment seja aprovado na Câmara dos Deputados no domingo. Desde que diversos partidos intensificaram o desembarque da base de apoio do governo, grandes empresas começaram a rever suas posições na bolsa de futuros. Na terça e na quarta, venderam US$ 3,8 bilhões para se desfazer de contratos que embutiam em seus preços uma alta da cotação da moeda americana. Acreditando agora na queda, pagariam caro para manter essas posições.
De acordo com Mauro Calil e Alberto Alves, do Banco Ourinvest, o chamado “hedge”, em que empresas usam instrumentos derivativos para se proteger da variação cambial, é muito caro e, quando há uma reversão de tendência, as empresas tendem a se desfazer desse custo. Para fazer o hedge, as empresas gastam entre 12% a 15% ao ano.
Não só as empresas estão mudando suas apostas. Muitos investidores estrangeiros e também fundos de investimentos intensificaram igualmente a venda de dólares nesta semana, ajudando a intensificar o fluxo.
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Alguns operadores observam com atenção a atuação agressiva do BC, que está batendo recordes de compra diária desde que lançou o modelo de leilões de swaps cambiais em 2005. O BC não está deixando o câmbio cair, o que pode beneficiar quem está agora desfazendo apostas. Por outro lado, essa atuação evita uma forte volatilidade. Calil, do Ourinvest, diz que o dólar teria caído a R$ 3,20 e R$ 3,30 sem a atuação do BC.
Do estoque de swaps cambiais que vinha carregando desde 2014, no total de US$ 120 bilhões, já reduziu agora para US$ 80 bilhões. Isso significa que, na prática, as reservas cambiais do Brasil estão ficando mais robustas, segundo o chefe de mesa de operação de um banco estrangeiro. Além disso, o BC ganha força para atuar no câmbio na próxima semana.
Apesar de o impeachment ser o tema mais comentado entre os operadores, outro ponto está sendo levado em conta nas análises das empresas e investidores para mudar as apostas. De acordo com chefe de operações de um banco brasileiro, o fato de o Banco Central americano estar aumentando os juros do país de forma mais gradual do que o esperado também afeta o mercado. Vários países viram suas moedas se fortalecerem frente ao dólar em um mês. Relatório do Banco Fator mostra que foi o que aconteceu com as moedas da África do Sul, México, Rússia, Colômbia e Peru.
Bolsa
Na Bovespa, a notícia de que a Advocacia Geral da União (AGU) impetrou um mandado de segurança no STF para anular o processo de impeachment foi recebida negativamente e fez alguns investidores fugirem do risco, dando força ao movimento de realização de lucros e desmontagem de posições consideradas arriscadas. O Ibovespa encerrou o pregão em queda de 1,39%, aos 52.411 pontos.
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