A decisão do governo de cobrar IOF nos investimentos de estrangeiros em renda fixa e variável no país como medida para frear a apreciação cambial é imperfeita, mas isso não significa que nada pode ser feito sob o argumento de que a queda do dólar é uma tendência global.
A avaliação é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em entrevista à Reuters considerou a ação "imperfeita dentro da natureza dos fatores que contribuem para a valorização do câmbio".
Mudanças na forma como o Banco Central intervém no câmbio, com uma atuação na posição compradas dos bancos, alteração nas margens de dólar futuro e o fechamento direto de câmbio com o BC por detentores da divisa mais preocupados com os ganhos de curto prazo são algumas das alternativas consideradas por ele, que destaca que nenhuma deve ter efeito direto na bolsa.
Belluzzo, que acaba de lançar "Os Antecendentes da Tormenta - Origens da Crise Global", destaca que a forte injeção de liquidez na economia internacional em reação à crise e o diferencial entre as taxas de juros entre os países revelaram que há um problema com o dólar, com quase todas as moedas valorizando-se frente à divisa norte-americana.
Na visão do economista, contudo, focar apenas na ideia de que o dólar cai ante o real pois está recuando no exterior não resolve nada. Ele nota que há mais países tentando defender suas moedas e vê isso como um sintoma de que o quadro não está bom.
"É preciso pensar de forma mais ampla, e descobrir que a questão está no sistema monetário internacional e no fluxo de capitais", diz. "E não adianta dizer que é algo que não se pode evitar. Não existe isso", acrescenta.
Mas, no caso do Brasil, ele reitera que o IOF não é o ideal, diante da intensidade do fluxo de capitais e do diferencial de juros. Além disso, o país tem superávit fiscal --"apesar de todas as reclamações"-- e reservas elevadas, o que favorece ainda mais a apreciação.
O professor da Unicamp chama ainda a atenção para o que ele classifica como uma "especialização perversa da economia brasileira", com o foco na exportação de commodities, enquanto a industria manufatureira perde competitividade, em grande parte pela valorização do real.
De olho em 2011
Com essa conjuntura cambial de pano de fundo e diante da mudança da administração federal daqui a dois anos, após a eleição presidencial de 2010, Belluzzo avalia a posição dos potenciais candidatos.
No caso da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que foi sua aluna, ele diz não ser "muito amiga" do atual comportamento das cotações do real.
"Ninguém no governo acha saudável a valorização nesse nível", comentou. Ainda assim, ele vê em Dilma uma posição mais moderada em relação à opinião do governador de São Paulo, José Serra.
"Ele é um adversário feroz da valorização cambial", disse. "Não sei se ele toleraria (o atual patamar do dólar)."
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