Os mercados globais têm mais um dia de fortes perdas nesta terça-feira. Contribuem para isso a proposta de perdas maiores para os bancos europeus detentores de títulos soberanos da Grécia, o adiamento de uma decisão sobre a liberação da próxima parcela do resgate financeiro grego e a forte preocupação sobre a solvência do banco franco-belga Dexia, que detém cerca de 2 bilhões de euros em títulos soberanos gregos. Autoridades europeias estudam como financiar o banco para evitar um colapso e o agravamento da crise.
Penalizada pela aversão global ao risco, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) opera no terceiro dia seguido de baixa, com o Ibovespa, índice de referência nacional, rondando os níveis mais baixos do ano, aos 50.448 pontos, queda de 0,67%, por volta de 12h.
No mercado de câmbio, o real se valoriza, na contramão das moedas de outros países produtores de matérias-primas, como Austrália e Canadá. Após o Banco Central (BC) fazer, pelo segundo dia seguido, um leilão de swap cambial (equivalente a venda de dólar no mercado futuro), o dólar comercial opera em queda de 0,52%, a R$ 1,880 na compra e a R$ 1,882 na venda.
Nesta segunda, o BC anunciou um leilão por volta de 15h30. Foram ofertados 106,9 mil contratos, equivalentes a US$ 5,348 bilhões. Segundo informe do BC, o mercado comprou 34 mil contratos, o equivalente a US$ 1,695 bilhões. O leilão de hoje, anunciado no fim do pregão de ontem, envolve a oferta de 90,5 mil contratos, o equivalente a US$ 4,5 bilhões. Em 22 de setembro, o BC já tinha feito um leilão de swap cambial, o primeiro desde junho de 2009.
No mercado acionário, o mau humor dos investidores atinge as ações mais negociadas na Bolsa: Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) perdia 0,92%, a R$ 18,24, Vale PNA recuava 1,56%, a R$ 37,65 e OGX Petróleo ON (ordinária, com voto) retrocedia 3,65%, a R$ 10,55.
Em Wall Street, as bolsas já abriram em queda, mas desaceleraram o movimento por volta de meio. O índice Dow Jones recuava 0,73%, S&P 500 perdia 0,18% e Nasdaq avançava 0,82%, após inverter a tendência.
Na Europa, o pregão é de fortes perdas. Em Londres, o FTSE 100 recuava 2,44%. Em Paris, o CAC 40 tinha queda de 2,06%. Em Frankfurt, o DAX perdia 2,63%. Em Madri, o IBEX 35 retrocedia 1,31%. Em Milão, o FTSE MIB recuava 2,03%.
A esperança dos investidores era que inspetores da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu autorizassem a liberação da parcela de 8 bilhões de euros do pacote de resgate de 110 bilhões de euros da Grécia. O país já indicou que só tem dinheiro em caixa para pagar salários e aposentadorias até meados deste mês. Mas os ministros das finanças da zona do euro, reunidos ontem em Luxemburgo, informaram que só vão decidir quanto à liberação em novembro.
"Os mercados caem diante da inação política na Europa", diz o diretor de varejo da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira.
Os ministros europeus informaram também que estudam uma revisão no segundo pacote de resgate da Grécia, negociado e anunciado em julho, que implicaria em uma participação maior de bancos europeus no novo pacote de resgate de 109 bilhões de euros. A ideia é fazer com que instituições financeiras aceitem mais perdas em relação ao que teriam de abrir mão de receber como retorno pela aplicação de títulos soberanos. Em julho, os credores privados concordaram com uma perda de 21% no valor dos títulos gregos que detêm.
Agora que o crescimento econômico grego e a situação de déficit fiscal pioraram, esse acordo precisa ser revisto, disse o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, ministro das finanças de Luxemburgo.
"Em relação ao envolvimento do setor privado, temos de levar em conta o fato de que tivemos mudanças desde que foram tomadas as decisões de 21 de julho, então estamos considerando revisões técnicas", afirmou ele sem dar mais detalhes.
Para Bandeira, da Ativa Corretora, enquanto não saírem medidas para melhorar a situação na Europa, a tendência de baixa será mantida, pelo menos nesta semana.
"Esses problemas na Europa já destruíram barbaramente o valor de ativos. Com isso, as pessoas perdem a sensação de riqueza, o que afeta o consumo, criando um ciclo vicioso", avalia Bandeira.