A euforia nos principais mercados financeiros mundiais nesta sexta-feira (19) com o anúncio de um novo plano dos EUA de "centenas de bilhões de dólares" para ajudar o mercado financeiro contaminou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que registrou o maior aumento em quase uma década, desde janeiro de 1999.
Ao final das negociações, o indicador Ibovespa - principal referência para o mercado nacional - exibiu alta de 9,57%, aos 53.055 pontos. O giro financeiro ficou na casa dos R$ 7,6 bilhões. Com isso, a bolsa zerou as perdas acumuladas na semana.
No momento de maior alta, durante a manhã, o índice chegou a apontar valorização próxima aos 10%. Segundo o pregão eletrônico da bolsa, não existia nenhuma ação sendo negociada em baixa naquele momento. O maior avanço anterior do Ibovespa foram os 33% de valorização registrados em 15 de janeiro de 1999, na época da maxidesvalorização do real. Em 2008, a principal valorização diária havia sido observada no dia 30 de abril, quando o Brasil foi elevado a grau de investimento e o índice subiu 6,33%.
Desenrolar do pregão
Os mercados globais já subiam desde as primeiras horas da manhã, com as informações de que o departamento do Tesouro norte-americano e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) estavam em busca de um "amplo plano" para ajudar os bancos a escapar de suas dívidas.
O plano preveria a criação de uma agência nos Estados Unidos que ajudará a dar uma solução de longo prazo para a atual crise de crédito. O novo órgão poderia coordenar o processo de compra, venda e resgate de instituições financeiras, além de concentrar os créditos podres.
Alívio
Para o gestor de renda variável da Ático Asset Management, Fernando Barbará, as autoridades e os reguladores estão atuando de modo a evitar o colapso do sistema financeiro.
O especialista lembra que o mercado monetário estava congelado e o temor estava fazendo com que o preço da maioria dos ativos no mundo perdesse qualquer referência. "Sem dúvida a crise é complexa e os problemas ainda estão longe do fim, mas esse pacote de medidas traz alívio suficiente para os mercados voltarem a trabalhar", resume.
Ainda de acordo com Barbará, ninguém mais tem dúvidas da seriedade do problema, nem de que o ambiente de negócios e a atividade econômica serão atingidos, não só nos EUA.
O ponto de preocupação, segundo o gestor, é a recuperação da atividade econômica. A recente destruição de riqueza em função da crise enfraquece o mercado consumidor e ainda existe uma maior dificuldade das empresas em obter financiamento e, assim, realizar novos investimentos. "O crédito está escasso e muito mais caro", ressalta.
Outros fatores
Também pesaram as informações de que o Securities and Exchange Commission (SEC, órgão regulador do mercado norte-americano) proibiu a venda a descoberto dos ativos de 799 instituições financeiras. A ação visa proteger o próprio mercado e, na prática, significa que os investidores estão proibidos de apostar nas baixas das companhias.
Além disso, os investidores também acompanham as notícias sobre as negociações do banco de investimentos americano Morgan Stanley com o fundo soberano China Investment Corporation (CIC) para uma entrada em seu capital de 49%, segundo reportagem publicada no jornal "Financial Times".
Cenário de alta
Como reação ao cenário favorável nos EUA, as bolsas de valores registram altas expressivas ao redor do mundo. Principal índice de ações européias, FTSEurofirst 300 fechou com alta de 8,19%, a 1.150 pontos. Apesar disso, ainda acumula queda de 23,6% no ano. Entre os principais mercados, Londres subiu 8,84%, Frankfurt teve alta de 5,56% e Paris avançou 9,27%.
Na Ásia, o índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, teve alta de 3,8%, depois de ter sofrido a maior queda em três anos na quinta-feira. A bolsa de Seul subiu 4,55%, Cingapura saltou 5,78%, Taiwan disparou 5,82% e Sydney se valorizou em 4,27%. A bolsa de Xangai também terminou o dia em ascensão: 9,46%.
Na Rússia, as negociações foram interrompidas pelo terceiro dia consecutivo em uma tentativa de conter a instabilidade dos mercados. Porém, ao contrário dos dias anteriores, o motivo foi porque os indicadores subiam demais. O Micex alcança alta de 28,69%, enquanto o RTS sobe 22,39%. Nos Estados Unidos, as bolsas também apontam para cima. O rali das ações teve início logo na abertura dos mercados. Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o índice Dow Jones, referência da bolsa de Nova York, subia 3,62%, enquanto o tecnológico Nasdaq avançava 3,23%.
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