O Brasil perdeu 2.415 vagas formais de trabalho no mês passado, no pior resultado para meses de fevereiro desde 1999, influenciado por elevadas demissões de trabalhadores no comércio e na construção civil, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério do Trabalho nesta quarta-feira (18).
O dado mostra uma deterioração do mercado de trabalho mais acentuada do que a esperada por analistas ouvidos em pesquisa Reuters, que previam a abertura de 20 mil empregos no mês passado, ante a criação de 260,1 mil vagas em fevereiro de 2014.
O mercado de trabalho, que foi um dos pilares do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, tem sentido os efeitos da economia estagnada, do aperto fiscal e monetário, da inflação alta e da perda de confiança na economia.
Lado positivo
O governo federal viu no fechamento de postos de fevereiro um número positivo por ser bem menor em comparação às 81,8 mil demissões líquidas registradas em janeiro. “Não foi um número excepcional porque não foi de crescimento. Mas houve estabilização (das demissões)”, disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias, ao comentar o resultado de fevereiro.
O governo também acredita que o grande escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e as principais empreiteiras do país possa estar influenciando o mercado de trabalho.
Dias disse que o governo está fazendo um levantamento sobre o impacto da operação “Lava Jato” no emprego e no movimento atual de demissões, considerando o efeito da Petrobras na economia.
“Haverá influência, claro, porque muitos dos contratos (da companhia) terão que ser renegociados e repactuados. Em certo ponto, isso vai pesar.”
Comércio e construção
O comércio registrou a demissão líquida de 30,4 mil trabalhadores em fevereiro ante admissão líquida de 19,3 mil pessoas em igual mês do ano passado.
A construção civil fechou 25,8 mil vagas frente a contratação líquida de 25 mil trabalhadores em fevereiro do ano passado.
No agronegócio, a agricultura registrou o fechamento de 9,5 mil vagas contra a criação de 6 mil postos em igual mês de 2014.
Outros segmentos
Mesmo os segmentos que contrataram no mês passado mostraram perda de força em relação a fevereiro de 2014.
A indústria da transformação admitiu em fevereiro 2 mil trabalhadores contra 52 mil contratações líquidas no mesmo do ano passado.
O setor serviços abriu 52,3 mil vagas no mês passado frente a criação de 143,3 mil postos na comparação anual.
Com a demissão líquida de trabalhadores, a taxa de desemprego já começou a subir. No trimestre encerrado em janeiro a taxa subiu a 6,8% diante do aumento da procura por trabalho 0,3 ponto percentual acima do verificado em três meses encerrados em dezembro, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Sobre resultados esperados para 2015, Dias disse que ainda não tem uma meta de geração de emprego para o ano e que espera que a economia reaja positivamente no próximos meses.
Menor demanda
O professor doutor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace/USP), Luciano Nakabashi, afirmou nesta quarta-feira, que o saldo negativo de 2.415 vagas formais de emprego apontado pelo Caged em fevereiro reflete a menor demanda e a queda nos investimentos no país.
“A situação era esperada, porque a economia vem devagar desde 2013 e, em algum momento, isso iria bater no emprego. Isso só não ocorria por conta das políticas de estímulos à demanda”, disse Nakabashi.
Segundo ele com a retirada dos “estímulos artificiais” de consumo pelo governo, setores como construção civil e comércio se retraíram e o impacto chegou ao emprego. O investimento para o consumidor são bens duráveis, como imóveis, e “esse cenário de retração na construção civil geralmente acontece em todas as recessões”, exemplificou.
Nakabashi considerou o fechamento de 25.823 vagas na construção civil em fevereiro mais impactante que a redução de 30.354 vagas do comércio, pelo fato de esse último setor ser o maior empregador da economia.
No entanto, segundo o professor da USP, os dados mostram que o comércio também sente a perda de empregos em outros setores e já esgotou a capacidade de absorver a mão de obra dispensada por esses segmentos, como ocorria no passado.