A inesperada saída do Reino Unido da União Europeia, chamada de “Brexit”, assustou os investidores e fez os mercados despencarem nesta sexta-feira (24). No Brasil não foi diferente: o Ibovespa (principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo) caiu 2,82% e o dólar subiu 1%, para a casa dos R$ 3,38.
Segundo analistas, ainda não se sabe quais são as reais consequências do “Brexit”, mas a avaliação inicial é que o impacto mais negativo ficará mesmo sobre a Europa. A leitura também é de que uma alta dos juros americanos, em meio à turbulência mundial, ficará mais distante, enquanto os bancos centrais se apressam em garantir liquidez aos mercados.
Outra percepção é que o desempenho do mercado brasileiro só não foi pior por causa das expectativas de melhora da economia doméstica.
“O comportamento do mercado local está sendo bastante maduro, já que a Bolsa devolveu o que subiu na véspera e o dólar não subiu tanto”, comenta Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos.
“Claro que o mercado brasileiro se ressente com o ‘Brexit’, mas em menor escala. Isso porque, internamente, temos uma perspectiva positiva, que é a retomada da economia, com a provável saída definitiva da presidente Dilma Rousseff e a implementação de reformas necessárias”, avalia.
O Ibovespa terminou o pregão desta sexta-feira em queda de 2,82%, aos 50.105,26 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7 bilhões.
Na semana, o índice ganhou 1,15%; no acumulado deste ano, tem alta de 15,58%.
As ações da Petrobras recuaram 4,34%, a R$ 9,25 (PN), e 5,14%, a R$ 11,43 (ON). Os papéis da Vale caíram 8,95%, a R$ 12,20 (PNA), e 8,31%, a R$ 15,21 (ON).
No setor financeiro, Itaú Unibanco PN terminou a sessão em baixa de 3,50%; Bradesco PN, -2,47%; Bradesco ON, -1,71%; Banco do Brasil ON, -2,03%; Santander unit, -4,19%; e BM&FBovespa ON, -1,74%.
Câmbio e juros
Após ter atingido a máxima de R$ 3,45 mais cedo, o dólar comercial fechou com valorização de 1,04%, a R$ 3,3800. Na semana, caiu 1,2%, e no ano, perde 14,4%.
O dólar à vista terminou o pregão com ganho de 1%, a R$ 3,3889. Na semana, a moeda americana caiu 1,13% e no ano também acumula queda de 14,4%.
Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, a desvalorização do real ante o dólar não foi mais forte porque o foco do problema está na Europa. “E, na cena interna, vemos otimismo dos investidores com as conquistas que o governo Temer tem obtido no Congresso”, diz.
Saiba quem ganhou e quem perdeu com o Brexit
Leia a matéria completaÍtalo Santos, especialista em câmbio da corretora Icap, destaca que a alta taxa de juros no Brasil continua sendo atrativa.
Outra questão, destaca Santos, é que o Banco Central continua sem fazer novas operações de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólares pela autoridade monetária. “Isso só deve acontecer quando o novo diretor de Política Monetária [Reinaldo Le Grazie] assumir, após 5 de de julho”, comenta.
Em nota, o Banco Central afirmou que “a economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo [o “Brexit”], especialmente relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional”.
No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,740% para 13,69%, mas o contrato de DI para janeiro de 2021 subiu de 12,410% para 12,44%.
O presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP), defendeu nesta sexta-feira a redução “responsável” da taxa básica de juros ainda neste ano para ajudar no processo de retomada da confiança e do crescimento econômico do país.
O CDS (credit default swap) brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, avançava 6,5%, aos 341,736 pontos.
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