A participação das micros, pequenas e médias empresas na carteira de exportações brasileiras é relevante: 70% das exportadoras são MPMEs. Mais do que ampliar essa fatia, herdada pela proporção das pequenas no mercado nacional, em que respondem por 90% das empresas brasileiras, o desafio também está na melhoria de qualidade de produção e na capacitação para operar no comércio exterior. Treinamentos e consultorias especializadas, viabilizadas por entidades de classe, universidades e por programas do governo federal, podem ajudar a decifrar as demandas do mercado externo e fechar negócios com parceiros internacionais.
INFOGRÁFICO: Veja um diagnóstico das empresas de micro e pequeno porte no país
Expectativa dos microempresários é destravar crescimento
Para encarar a proposta de internacionalização da empresa de design de acessórios, Daniela Ross fez uma parceria com a artista plástica Rosana Erci e criou uma coleção de bijuterias produzidas com material natural: madeira, semente, pedras e cerâmica. A linha de biojoias Deusas do Mundo está sendo elaborada em paralelo ao processo de adequação da Dupla Design para atuar no mercado externo. A expectativa é triplicar o faturamento atual, de R$ 5 mil mensais, com a expansão da marca.
Daniela já encaminhou amostras dos produtos que vende on-line, de maneira informal, para a Europa e o Canadá, mas não teve retorno. “Estou atenta às demandas que um novo mercado vai impor, como fornecedores, mão de obra, material e produtos diferentes. Acredito que o projeto vai decolar”, diz.
Escolada em programas de estímulo à exportação, a designer Sônia Knopik, da Ecofábricas, espera pular da teoria à prática e finalmente colocar seus brindes produzidos com material reciclável no mercado internacional. A empresa, que nasceu no antigo Cefet, tem 12 anos de operação e 17 funcionários, está estacionada no mesmo patamar de faturamento há três anos. “O mercado externo pode quadruplicar o meu faturamento e me dar condições de investir em expansão. Mas eu preciso ver resultados concretos”, diz a empresária.
Oportunidade
Há pelo menos cinco anos, Sônia participa de programas de capacitação para exportação, ciente de que é um caminho estratégico para seu negócio. Em sua avaliação, o consumidor estrangeiro tem maior consciência ecológica e está disposto a pagar mais por um produto sustentável.
A Ecofábricas tem um amplo catálogo de produtos feitos com lona de caminhão, juta, papel reciclado, pet e retalhos de couro. A exportação pode criar uma demanda fixa e regular que vai permitir planejar novos investimentos e ampliar a produção. A preocupação de Sônia é encontrar o caminho das pedras, o que vai além da questão técnica. “O pequeno empresário precisa de suporte financeiro para participar de eventos no exterior. E programas com renome como o da FAE podem construir essa articulação política necessária para viabilizar esses recursos e dar mais acesso a esses eventos, essenciais na exposição das marcas”, avalia.
Lançado há um ano, o Centro de Internacionalização da FAE , em Curitiba, entra agora na segunda fase da preparação de empresas selecionadas para estrear no comércio exterior, uma das apostas dos especialistas para ampliar mercado e retomar o crescimento econômico.
Depois de eleger seis empresas com potencial exportador – Qualinova, Ecofábrica, Dupla Design, Satech, Inbrasfama e Cativa –, professores e alunos do curso de Comércio Exterior realizaram visitas técnicas para o mapeamento dos processos produtivos. “O objetivo é dar o suporte às empresas e também proporcionar o aprendizado dos alunos em atividades práticas, desenvolvidas em ambientes empresariais reais”, explica o coordenador do projeto, Joaquim Brasileiro.
Consultoria
Na fase atual, a consultoria faz a pesquisa comercial da nomenclatura padrão para enquadrar cada produto das empresas assistidas. Os diferentes segmentos e perfis da produção são tarefas extras, pois a equipe precisa encontrar as siglas para nomear as bebidas funcionais da Qualinova, os brindes empresariais feitos com material reciclável da Ecofábrica, as biojoias da Dupla Design, os sistemas de telecomunicações da Satech, a matéria-prima sustentável para produção de painéis automotivos da Inbrasfama e os cosméticos naturais da Cativa. Em comum, as empresas têm produções ligadas à sustentabilidade, característica que ganha apelo competitivo no mercado internacional, na opinião do coordenador do projeto. “Além disso, a identidade nacional está bem ligada a produtos naturais, temas como ecologia e meio ambiente”, observa Brasileiro.
Além de nomear, é preciso pesquisar potenciais mercados consumidores e em seguida fazer as adequações necessárias ao produto, que podem ser do design à embalagem. “Nesse momento é que as empresas deverão fazer investimentos, se forem necessários, para atender ao mercado desejado”, diz o professor.
A etapa seguinte será a de prospecção de eventuais representantes nos destinos e, por fim, a definição da logística internacional para despacho dos produtos. A expectativa é de que as primeiras exportações sejam concretizadas em 18 meses.
“A exportação é importante para dar maior competitividade à pequena empresa, que deve investir na cultura do comércio exterior. Além de reduzir a dependência do mercado interno, somente o ganho cambial, nos dias de hoje, já é atraente para o empresário”, diz.
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