A proposta é um banho de água fria na economia tradicional: empreendedores de diferentes segmentos compartilham o mesmo espaço, dividindo contas, tarefas administrativas, organização, trabalhos, ideias, projetos e resultados. A economia colaborativa envolve empreendimentos de áreas em que o conhecimento e a criatividade são os principais valores na construção de um novo produto ou serviço. A modalidade tem sido considerada uma das principais tendências econômicas do século 21, propondo a troca dos 4Ps (produto, praça, preço e promoção) pela metodologia 4D: financeiro solidário, social político, cultural simbólico e tecnoambiental.
As Casas Abertas são uma alternativa para viabilizar a estrutura para que toda essa troca ocorra e gere fluxo de negócios, mantendo próximos os atores do modelo que ganham escala exponencial em suas redes. Modelos de negócios baseados no compartilhamento têm alcançado resultados relevantes, como a plataforma Airbnb, de oferta de cômodos e imóveis por temporada. Também provocam mudanças e discussões sobre condutas convencionais das atividades, como foi o aplicativo Uber, de carona remunerada, que chegou a ser suspenso no país por uma liminar judicial, posteriormente revogada, a pedido dos motoristas de São Paulo. Ambos são exemplos da força da economia colaborativa, que movimentou US$ 110 bilhões em 2014, de acordo com a revista Forbes.
Experiências como a casa Laborosa, 89, em São Paulo, e outros espaços coletivos de prototipagem de projetos em Porto Alegre e Recife têm inspirado iniciativas em Curitiba. Depois de conhecer projetos semelhantes, em agosto de 2014, o advogado Filipe Küster voltou para a capital para replicar aqui o conceito do trabalho em rede. “A ideia é manter a catraca livre para receber quem está disposto a compartilhar e viver em rede, com o cuidado que essa experiência exige”, diz.
A iniciativa de Küster se alinhou à ação dos participantes do curso de Economia Criativa coordenado pela especialista Lala Deheinzelin no Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), que iniciaram um mapeamento de espaços com o DNA do modelo criativo e colaborativo em Curitiba. “Pelo menos 15 locais foram identificados como abertos, com diferentes vocações, que funcionam como coworkings, ateliês ou em modelos híbridos”, explica o empreendedor Henrique Cabral, fundador da Casa Base, dedicada à moda e arquitetura, que começa a funcionar em junho.
Uso sustentável
Para a engenheira mecânica Cláudia Valenzia, especializada em administração de empresas, a atividade colaborativa propõe o uso sustentável de recursos e estruturas, sejam físicos, financeiros, humanos ou de tempo. Além disso, a divisão de espaço e ideias dá a flexibilidade que o teste dos modelos de negócios criativos exige. Há tempo e espaço para errar e retomar o projeto, com as modificações sugeridas pelos parceiros.
“A modalidade se baseia no fato de que os recursos, mesmo abundantes, não são aproveitados de maneira adequada. Ao compartilhá-los em rede, há maior interação entre as pessoas, que não são limitadas por uma gestão centralizada”, explica Cláudia. “O ponto chave dessa modalidade é a transparência. Tudo é muito claro, dos custos de manutenção à participação de cada um no trabalho e na rotina”, completa Cabral.