O governo argentino estuda formas de reduzir os bilionários subsídios às tarifas públicas, em especial de energia, que abocanham fatias crescentes do orçamento. No ano passado, o desembolso saltou 34% e atingiu o equivalente a US$ 17 bilhões, nada menos que 3,6% do PIB local.
INFOGRÁFICO: Ano que passou foi ruim para as exportações da indústria paranaense
O governo de Cristina Kirchner banca 80% da conta de luz dos argentinos, independente de classe social. Os efeitos dessa política, implantada em 2003, não surpreendem. Sem preocupação com o uso racional da energia, o desperdício é elevado. Para piorar, o governo inibe o investimento privado e não faz a sua parte, o que limita a expansão do sistema de geração. Assim, em dez anos a demanda subiu 45% e a oferta de eletricidade, apenas 22%. Os cortes de energia são comuns, e quando ocorrem a Casa Rosada põe a culpa nas distribuidoras.
Alguma semelhança com o que ocorre no Brasil? Parece que estamos longe de chegar a esse ponto, mas a rápida evolução dos aportes do Tesouro no setor elétrico assusta. Foram R$ 9,8 bilhões no ano passado, e há quem estime quase o dobro neste ano, caso não venham chuvas torrenciais. Isso para não falar do rombo que o subsídio à gasolina e ao diesel provoca no caixa da Petrobras.
Nessas horas, vale relembrar um comercial de vodca dos anos 1980 que deu origem à expressão "Efeito Orloff". Na propaganda, um sujeito bem disposto aparecia do futuro (mais precisamente, do dia seguinte) para sugerir a si mesmo, no balcão do bar, que escolhesse Orloff. "Custa um pouco mais, mas amanhã você não se arrepende", garantia. "Mas quem é você?", retrucava o outro. "Eu sou você amanhã." Para arrematar, o slogan da bebida: "Pense em você amanhã".
Crise lucrativa
O preço da energia no curto prazo está em mais de R$ 800 por megawatt-hora, um recorde. É dor de cabeça para indústrias que precisam de energia adicional. Mas algumas geradoras têm muito a ganhar. Três delas em especial: Cesp, Cemig e a paranaense Copel. Por não participar do programa de renovação de concessões, elas ficaram com energia "descontratada" até 2015, quando terão de devolver algumas usinas. Até lá, poderão negociar essa sobra no mercado livre.
O banco JP Morgan calcula que as três podem ganhar, juntas, até R$ 7 bilhões nessa jogada. No caso da Copel, que tem 160 megawatts disponíveis, o ganho varia de R$ 700 milhões a R$ 1,2 bilhão, segundo o banco.
Por outro lado, a crise no setor derrubou as ações de todas as elétricas que têm um pé na distribuição, grupo em que a Copel também se inclui. Resultado: desde o começo do ano, as ações da companhia desabaram 19%.Ouro Verde desisteA locadora de veículos Ouro Verde desistiu de lançar ações na Bolsa de Valores. Ela tinha pedido registro de companhia aberta em julho de 2013. Em comunicado à CVM, a empresa culpou as "atuais condições desfavoráveis do mercado de capitais".
Colaboraram Anna Paula Franco e Pedro Brodbeck
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