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Financês

Crédito caro e abundante não faz sentido

Quando comecei a trabalhar com jornalismo econômico – faz tempo! –, aprendi uma regra sobre as taxas de inadimplência: os níveis mais altos de dívidas não pagas costumam ocorrer no fim do primeiro semestre. A partir daí os devedores começam a se mover para regularizar as contas ("limpar o nome", como se diz) para chegar a novembro e dezembro sem pendências. Nessa época ocorrem grandes compras, sejam as de Natal ou a de itens para reforma da casa, por exemplo. Todo mundo quer ter o nome limpo em dezembro. Essa é a regra que eu aprendi nos anos 90, e que se provou correta ao longo dos anos.

Recentemente, entretanto, as coisas andaram meio estranhas, culminando com um dado divulgado ontem (você pode ver a matéria na página 19): a inadimplência voltou a subir em novembro, segundo a Serasa Experian, e esse foi o sétimo mês consecutivo. Na comparação com novembro de 2009, a inadimplência do consumidor subiu 23,2%.

O que mais surpreende não é nem o fato de essa elevação tremenda contrariar um raciocínio lógico (que pode muito bem estar vencido, ultrapassado por um refinamento de mercado que não existia naquela época). O mais impressionante é que ela ocorre num ano em que a economia brasileira vai crescer 7,5%. E numa época de aumento na renda disponível para os trabalhadores.

Talvez seja a falta de experiência daquela turma que os especialistas em marketing têm chamado de "consumidores emergentes" – gente que não tinha condições de comprar muita coisa e que, beneficiados por um excelente momento na economia nacional, foi com sede demais ao pote. Pode ser pura euforia, daquele tipo que impede a gente de enxergar problemas quando tudo está indo tão bem. Talvez seja a falta de educação financeira, ou a velha deficiência dos estudantes brasileiros no que se refere à matemática. O fato é que ela foi agravada, sem dúvida, por uma conjunção de forças potencialmente arrasadora: crédito abundante e juros altos. Como é muito fácil conseguir um financiamento, as pessoas concluem que ele é barato. Não é.

A taxa de juros média para a pessoa física, segundo o Banco Central, era de 40,83% ao ano em outubro. Nos Estados Unidos, que acabaram de passar por uma crise de crédito e onde 22% das casas com hipotecas ainda correm risco de ir a leilão, os juros para um empréstimo pessoal com prazo de 24 meses são de 10,7% ao ano. Dado o histórico recente, eles é que deveriam pagar mais. Tem alguma coisa errada, e o resultado disso é a inadimplência que estamos enfrentando.

O governo brasileiro precisa decidir se quer crédito abundante ou crédito caro. Não dá para ter os dois em uma economia saudável.

Datas comemorativas

Frase do comunicado da Serasa Experian sobre a inadimplência: "A aceleração registrada em novembro é resultado do maior endividamento e comprometimento da renda do consumidor e do acúmulo de dívidas com as compras nas datas comemorativas do varejo, sobretudo no Dia da Criança".

Traduzindo: o brasileiro endividou-se demais comprando presentes para os filhos em outubro, por isso não vai ter crédito para parcelar o presente de Natal.

O adulto gasta demais e a criança é quem perde o presente...

Dicas

O portal Finanças Práticas, criado pela bandeira de cartões de crédito Visa, publicou algumas boas dicas para atravessar as festas sem muitos danos ao bolso. Algumas delas estão no quadro acima. Faltou uma: não fique devendo para o cartão. As taxas são as mais altas do mercado, de 10,69% ao mês. Os americanos pagam 13,59% ao ano pelo mesmo produto financeiro.

Armadilhas

Aqueles e-mails com mensagens falsas, que direcionam o usuário do computador para sites que roubam senhas e dados pessoais, estão se sofisticando. Depois que os bancos Santander e Real uniram suas operações, começaram a aparecer diversas mensagens falando que o correntista precisaria baixar um componente novo para continuar usando o internet banking. Falso, coisa de oportunista. Mas, como o timing combinou bem com as mudanças reais no banco, muita gente caiu.

Vale lembrar que todas as mensagens falsas do gênero são meio ameaçadoras. Dizem que o cidadão precisa fazer o download o mais rápido possível para não perder acesso ao banco, ou coisa parecida. Fuja disso.

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