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Financês

Governo, governança, governabilidade

Escrevo com um olho no teclado e outro no gráfico do Ibovespa. Logo nos primeiros minutos do pregão, de manhã, ele caiu 6%, depois começou uma lenta recuperação. O dólar foi às alturas. O fechamento foi um pouco menos dramático: o Ibovespa encolheu 2,77% e a divisa americana fechou a R$ 2,52, com alta de 2,6%.

Quem, como eu, acompanhou o vai-vai dos preços, pode ter ficado com uma pergunta na cabeça. Será o começo das dores? Vamos daqui para pior?

Menos, pessoal. Haverá muita tensão nas próximas semanas, mas o Brasil sobrevive. E sobrevive inteiro, apesar das bobagens separatistas que meia dúzia de bobos anda espalhando por aí.

O mercado, seus operadores e investidores podem ter reações exacerbadas diante dos fatos, mas um pouco de racionalidade tende a se impor, especialmente no mercado de câmbio. A não ser, é claro, que aquele povo todo que disse que iria embora do país caso Dilma vencesse cumpra a promessa. Nesse caso, eles vão sair por aí comprando dólares, o que faria a cotação disparar. Mas eu duvido – afinal, teve uma turma que disse o mesmo quando Lula foi eleito, mas ficou e se deu bem com o boom econômico disparado pelo governo social-democrata que ele fez.

Para os que ficam, sugiro deixar de lado as conversas sobre governabilidade e esse papo de compor o governo com tal e tal partido. Fazer isso agrada líderes partidários, mas só reforça as reações negativas da população – e convém não esquecer que 48% dela votou contra a presidente reeleita.

Em vez de governabilidade, seria bom falar em governança. Essa é uma expressão muito usada no mundo dos negócios e corresponde aos princípios por trás da administração. No ambiente político, fala-se em plano de governo, uma peça que os partidos brasileiros nunca levaram muito a sério. De verdade, seria preciso deixar claro de que forma estão sendo distribuídos cargos e com quais critérios. Quando a população não conhece, não pode fiscalizar. É assim que os mensalões e petrolões se criam.

Trabuco à mão

O boato de ontem, animado inclusive por notas na Folha de S. Paulo, era de que o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, estaria perto de aceitar o Ministério da Fazenda no segundo governo Dilma. Será verdade?

Se for, será uma jogada para acalmar o mercado, bem parecida com a que o líder Lula aprontou quando trouxe Henrique Meirelles para dirigir o Banco Central, em 2002. Funcionou. Meirelles atuou com total independência (apesar de hoje a presidente dizer que independência do Banco Central é pecado) e trouxe as expectativas de volta à realidade. Trabuco não é Meirelles. É um nome respeitadíssimo no país, e a tradição de discrição dos banqueiros do Bradesco reforça sua imagem. Mas não tem o peso internacional de Meirelles, que estudou em Harvard e dirigiu a divisão bancária global de um dos dez maiores bancos americanos à época, o FleetBoston. Pode ser que um nome como o do presidente do maior banco privado do país ajude a acalmar os ânimos (um Trabuco pacificador?). Mas é bem provável que o futuro ministro faça exigência. O governo estará disposto a bancá-las?

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